Nos anos 60, perante a inevitável aproximação de espaços e tempos provocada pela aceleração das comunicações, Marshall McLuhan usava o termo citado no título para comparar o extenso globo terrestre, pleno de recursos e crises, diversidades e contrastes, a uma pequena aldeia, lugar de suficiência e vizinhança, de acesso fácil e rápido a todos os recantos. E, acrescento eu, de encontro, porque numa aldeia todos se conhecem e cruzam nos caminhos. E de ligação também, porque a familiaridade aldeã gera redes de solidariedade.
Nos anos 80, o neoliberalismo mundializou a economia e gerou-se uma globalização de produtos, estratégias e poderes, para lá das pessoas. As tecnologias de informação e comunicação desenvolveram-se, revelando as suas maiores fragilidades: o seu caráter unidirecional (a difusão em massa de ideias, sem existência de feed-back proporcional) e a sua incontrolável velocidade (a rapidez e sucessão do fluxo informativo, que inibe o sentido crítico).
Escrevo isto a propósito das constantes, repetidas (e insensíveis) notícias sobre migrantes e refugiados, muitas vezes com final trágico devido a intolerâncias e medos vários. São dramas humanos individuais tratados como «produto em série», como que para consumir sem refletir. E para esquecer depois…
Não adormeçamos o espírito crítico: cada refugiado é uma pessoa que busca salvação para a sua vida. Numa verdadeira «aldeia global», cada um dos 7 mil milhões de nós deveria sentir o espaço da Terra como seu e todos deveríamos abraçar-nos num gesto fraterno, sem ninguém deixar de ter lugar. Acolher e ser acolhido são direitos de todos!
Há dias, aplaudindo a notícia de que Portugal se dispôs a acolher mais umas centenas de refugiados, senti que a globalização é bem mais do que uma rede de interesses económicos; é uma missão dos Estados – e nossa! – na construção da verdadeira aldeia global. De pessoas.