19º Domingo do Tempo Comum
A nenhum de nós é difícil imaginar as desilusões por que, uma após outra, o profeta Elias passou ao não encontrar Deus nem na forte ventania, nem no tremor de terra, nem no incêndio devastador… E logo numa fase da sua vida em que o desânimo o assaltava impiedosamente. Também para nós, como para Elias, não se torna fácil reconhecer Deus na suavidade de uma brisa ligeira!
Esta é a distância, a ser percorrida também por cada um de nós: desde uma conceção humana de Deus, baseada numa omnipotência que tudo pode e esmaga, até à sua realidade, gostosamente representada pela brandura de uma brisa suave, que não impõe, mas propõe e convida.
Para espanto nosso, no evangelho, aparece, ao inverso, a ‘viagem’ feita por Pedro: ele exigiu a demonstração do poder de Cristo frente ao indomável mar, para reconhecer naquele homem o Filho de Deus. Pedro tinha visto o prodígio da multiplicação dos pães, mas precisava do teste final, frente ao mar revolto. Se é verdade que Cristo acedeu ao desafio, não deixou de lhe fazer a censura: “homem de pouca fé, porque duvidaste?”.
Numa palavra: a viagem a ser feita por todos nós, tal como Elias e Pedro, só tem um rumo: do Deus ‘omnipotente e todo-poderoso’ do Sinai ao Deus que, em Cristo, aparece derrotado e vencido no alto do Calvário. Mas é da montanha do Calvário e não do Sinai que vai raiar a aurora da vitória final, isto é, a Ressurreição!
Numa sociedade e cultura em que somos cada vez mais minoritários, é grande a tentação de nos querermos ancorar na tradição – sempre foi assim; antigamente é que era – em vez de nos ancorarmos na força da fidelidade, da coerência, do testemunho silencioso, do trigo lançado à terra, que, para germinar, precisa antes de apodrecer.
Nesta época em que muitas festas de cariz religioso e de grandiosas procissões tiveram de ser suprimidas, será oportuno perguntarmo-nos que é que daí sobrava para além do generalizado comentário: “foi muito bonito”! Trata-se, é verdade, de uma situação forçada, mas também pode ser uma oportunidade para passarmos do simples ‘folclore religioso’ para aquilo que é essencial: é importante que as pessoas reparem mais no nosso testemunho, dado no dia a dia da vida, sem pompa, sem barulho, sem quase se dar por ele, pois é ele e só ele que convence e atrai.
Mas, para isso, precisamos de saber ler os ‘sinais’, não aqueles que nós escolheríamos, mas aqueles que Deus constantemente nos envia: não só o olhar de uma criança, a beleza de uma paisagem, o murmúrio das folhas, o esplendor do pôr-do-sol, o encanto de uma flor, a tranquilidade de uma noite estrelada, e que, em tempo de férias, temos mais disposição para escutar, mas também um incómodo e intrigante COVID 19!
Num tempo em que somos constantemente bombardeados por sinais de violência, de destruição e de morte, haja quem aponte para estes sinais de esperança, os sinais daquele Deus, de cujo amor por nós “nada, nem ninguém nos pode separar”! Só a partir do reencontro com este Deus, é que nós poderemos avançar, firmes e determinados como Elias, para cumprir a nossa missão, fazendo da suavidade, do silêncio, da fraqueza e da brandura a nossa força!