Domingo da Santíssima Trindade
O mistério da Santíssima Trindade, que hoje celebramos, é o mais profundo da nossa fé. Os textos litúrgicos tentam abordá-lo através de duas aproximações muito diferentes.
Com efeito, a terminologia filosófica, usada no Prefácio – e herdada de vários concílios que, ao longo da história da Igreja, se debruçaram sobre este tema – é importante, sobretudo para nos dizer o que o nosso Deus não é.
Mais importante, por isso, é mergulhar no coração deste Deus que transborda de amor misericordioso para com todas as suas criaturas, particularmente para com o ser humano, a ponto de aceitar “caminhar no meio de nós”, apesar das nossas infidelidades e que só próprio Deus era capaz de se dar a conhecer da forma que o fez a Moisés, como escutamos na primeira leitura: “O Senhor é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade”.
Daí que, perante o mistério da Santíssima Trindade, a atitude mais apropriada é a de adoração e de louvor. Com S. Paulo, também nós proclamamos:
– “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo”, que “amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna”!
– Bendito seja o Filho, que nos “amou até ao fim”, fazendo-se nosso companheiro de viagem e deixando-nos o seu Corpo como pão repartido e sangue derramado!
– Bendito seja o Espírito Santo, “derramado em nossos corações”, para ser nossa luz, nossa força e nossa consolação!
E esta atitude de louvor e adoração deve passar, como nos recomenda S. Paulo, para a nossa vida do dia-a-dia: “Sede alegres, trabalhai pela vossa perfeição, animai-vos uns aos outros, tende os mesmos sentimentos, vivei em paz”.
É por esta ‘marca trinitária’ que nos devemos distinguir dos outros, pois é através dela que se manifesta que “o amor de Deus foi derramado em nossos corações”!
Vale também a pena reparar que é a linguagem típica da ‘família’ que é aplicada a Deus, pois a experiência familiar é a que melhor nos aproxima de Deus. Na verdade, é só o amor que nos pode transformar de ‘macho’ e ‘fêmea’ em ‘pai’ e ‘mãe’ e o nosso fruto de ‘cria’ em ‘filho/a’, como também é só o amor que pode fazer a unidade da diversidade, sem a anulação de uma pluralidade que não apenas não desaparece, mas se conjuga e se completa. Com efeito, a conjugação de duas semelhanças (homem/homem ou mulher/mulher) nunca poderá ser equiparada à conjugação de duas dierenças (homem/mulher)!
Mas – convém reconhecê-lo também – a riqueza e profundidade deste mistério não se coadunam com a proclamação anémica da fórmula conclusiva de qualquer anáfora: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo…”, nem com a maneira como habitualmente fazemos o ‘sinal da cruz’: feito apressada e grotescamente.