Decididamente, amigo leitor, o Beato Daniel Brottier era homem de ação. Não estava feito para a Trapa. O P. Jalabert que fora seu superior em S. Luís, no Senegal, e era agora bispo de Dakar, sabia-o. Trazia um sonho de Dakar e foi bater à porta de Brottier. Queria encarregá-lo de organizar a construção de uma catedral-monumento em Dakar.
Daniel Brottier abraçou o desafio com entusiasmo. Era preciso angariar muito dinheiro para pôr de pé o sonho de monsenhor Jalabert. Mas isso não foi nunca difícil para Brottier. Aliás, ele mesmo, já no fim da vida, confidenciou ao barão de Brichambault, seu amigo: «Depois da minha morte, não procederei como S. Teresinha do Menino Jesus: não será uma chuva de rosas que farei cair sobre a terra, mas uma chuva de notas de banco».
Não havia tempo a perder. Visitou os párocos de Paris. Bateu à porta de gente influente. Dirigiu-se aos jornalistas, a fim de dar a conhecer o projeto a toda a França. Constituiu um Comité de Honra e Propaganda. Lançou o Boletim da Catedral-Monumento. Promoveu pregações e conferências.
Em pouco tempo, conseguiu juntar vinte mil francos. Mas, para espanto dos seus confrades, decidiu empregá-los em publicidade. Amplidão de vistas, que assustou os confrades. Mas ele não hesitou. Ao fim de 25 anos conseguiu juntar duzentos mil benfeitores e mais de sete milhões de francos.
É um empreendedor nato. De toda a sua estratégia, de destacar o conselho que lhe deram e ele seguiu até ao fim da vida ao pé da letra, conforme ele mesmo nos narra: «”Se quer prender os seus benfeitores, subscritores e amigos, agradeça-lhes imediatamente os donativos, ainda que num simples postal!” E eu escrevia…. Cheguei a escrever trinta, cinquenta, cem cartas por dia; às vezes duzentas. Respondi a todas as pessoas que me escreveram, a todas, sem uma única exceção. Recebia a oferta de um selo de dez cêntimos? Dele me servia para a resposta com os respetivos agradecimentos».
Foram precisos 25 anos para ver inaugurada a Catedral. Mas é preciso não esquecer que em 1914, quando tencionava dar início à construção, rebentou a primeira guerra mundial. Tornou-se então capelão militar. Terminado o horror da guerra, continuou a promover a construção da Catedral. Recebeu, entretanto, nova missão: a direção da obra “Órfãos de Auteuil”. A catedral veio a ser inaugurada a 2 de fevereiro de 1936. Mas ele não pôde estar na festa, por graves motivos de saúde. Celebrou nesse dia missa de ação de graças na capela de S. Teresinha, em Auteuil, rodeado pelos seus queridos órfãos.