Quando este artigo for publicado já terá ocorrido o martírio e a Ressurreição de Jesus, ou seja, a Páscoa. Já terá havido o momento do desespero (a morte de Jesus) e o da suprema esperança (a sua ressurreição). Terá acontecido, mas não para todos… Há um lugar neste mundo que parece preso ao desespero há 7 longos anos. Esse lugar é a Síria que é um eterno calvário onde todos os dias morrem pessoas. Todos nós já nos habituámos a isto e, pior, achamos que é normal e, muito pior ainda, já achamos que não tem solução e, portanto, é assim que tem que ser… Que é uma guerra de muitas guerras mais pequenas onde quase todo o mundo lá tem ou apoia um exército e, para acalmar a consciência, damos a isto o nome pomposo de Geo-Política.
Desde há algum tempo que tenho vindo a refletir sobre isto e como nos fomos tornando insensíveis ao ponto de comermos com mortos à mesa na hora do jantar, servidos pelos telejornais sem isso provocar em nós qualquer tipo de sentimento. Como nada no mundo é novo, é apenas agarrar no que já existe e fazer uns acrescentos, este tema também já foi estudado.
Corria o ano de 1963 e estava a ser julgado em Israel Adolf Eichman, o responsável logístico do regime de Hitler, que é a forma eufemística de dizer o homem que geria todos os transportes de Judeus para os campos de morte Nazis. Hannah Arendt era uma judia que vivia em Nova York, filósofa, professora e que colaborava com a revista Time. Quando soube do julgamento pediu para ser ela a fazer a cobertura e escreveu uma longa reportagem. Durante o julgamento Eichman declara-se inocente de tudo, alegando que só estava a cumprir ordens e não sabia o que acontecia naqueles campos. Ao observar isto, Hannah começa a compreender que o que houve na Alemanha nazi foi uma burocratização do mal, ou seja, uma normalização que o tornou aceitável para toda a gente. Isto aliado à ambição de querer subir na hierarquia nazi fez com que Eichman (e grande parte do povo alemão) cumprisse ordens para agradar ao “patrão”. E o cumprir estas ordens era condenar à morte e maus tratos seres humanos semelhantes a todos os restantes alemães a quem não era reconhecida qualquer traço de humanidade.
Segundo Hannah, terá sido este mecanismo de burocartização, institucionalização, banalização que terá conseguido que tanta gente tenha executado, apoiado e calado as atrocidades nazis durante a 2ª Guerra mundial.
Não estaremos, de novo, a Banalizar o Mal na Guerra da Síria?