1. Libermann dirige a sua missão aos que estão à margem da sociedade
Através da sua profunda experiência pessoal de sofrimento, Libermann desenvolveu uma fina sensibilidade às situações de vida dolorosa. A sua decisão de deixar a Sociedade Eudista e de se juntar à nova iniciativa missionária deve-se ao seu grande desejo de ser útil à Igreja de Deus.
Uma carta escrita em 1839 ao Padre Carbon, diretor do seminário de Saint-Sulpice em Paris, testemunha-o:
“Todo o tempo que passei na Congregação de Jesus e Maria, em Rennes, foi para mim um tempo de aflição e de tormento. Não foi isso que me fez deixar aquela pobre Congregação; mas uma das coisas que mais me influenciou foi o facto de ali me ver como absolutamente inútil e incapaz de fazer qualquer coisa para a glória de Deus. Via-me confinado num noviciado, rodeado de três ou quatro pessoas para as quais eu tinha pouca ou nenhuma utilidade espiritual. (…) Eu falava, instruía, tentava inspirar fervor, e as minhas palavras eram mortas, sem qualquer bênção de Deus e sem qualquer efeito de progresso espiritual (…). Posso dizer-vos em verdade que o pior de tudo foi ver-me inútil na Igreja de Deus. Esta visão era real, não era fruto da minha imaginação. E esta visão era acompanhada por um desejo tão grande de fazer algo para a glória de Deus que era uma cruz muito dolorosa para mim. (…) Eu via os poucos dias que me restam neste mundo a esvaírem-se um a um, e isto era infrutífero e inútil para a glória de Nosso Senhor, à qual eu gostaria de me dedicar sem cessar. (Antologia Espiritana, pp. 73-74).
Este sentimento de aparente inutilidade levou Libermann a partir em busca do lugar que Deus, por quem tinha mudado a sua vida, lhe tinha preparado na sua Igreja. Inicia então a ‘Obra dos Negros’, uma iniciativa que procura dar uma resposta de fé a uma realidade social dolorosa, produto de um sistema profundamente desumano: a escravatura. Tisserant e Le Vavasseur permitiram a Libermann compreender a marginalização social como um espaço de evangelização. A ‘Obra dos Negros’ definiu o locus social da ação evangelizadora: as periferias sociais da época.