É assim que entendo a vida do Pe. António Jansen, espiritano, holandês. Chamado por Deus, entregou tudo o que tinha: a VIDA!
O Pe. António Jansen já tinha anunciado que estava a viver a “última fase de vida”. Mas quando muitos tremem o seu testemunho é profundo: “Lhes agradeço por todo o carinho e amizade e conto com o apoio de suas orações para poder me entregar totalmente, com muita gratidão pela vida, que Deus me deu. Espero ter usado os meus poucos talentos de maneira certa no anúncio do Reino, em cuja plenitude espero viver para sempre em breve. (…) Com isto me sinto em paz. Grande abraço. António Jansen”.
Foi assim que se despediu e foi assim que ele viveu.
A “querida Amazónia” ligou-nos profundamente, como um avô a um neto. A primeira memória acontece em São Raimundo, Manaus. O jovem Hugo, estagiário, português, com 24 anos, aterrava num mundo novo. E ali, à minha frente, lá estava o Pe. António Jansen, um homem simples, rodeado de muitos amigos, numa conversa alegre e descontraída. Essa é uma das características que para mim o definem bem: homem do povo, de relações fáceis. Os bons e velhos amigos, iam sempre chegando e partindo de todos os lados, pois ele próprio trabalhou em várias cidades da região: Fonte Boa, Manaus, Tefé, Carauari. Nada como um cafezinho e dois dedos de conversa. Mesmo depois do seu regresso à Holanda, depois de mais de 50 anos em missão na Amazónia, e quando já estava mais frágil, era bonito vê-lo a dedicar-se ao facebook, enviando mensagens aos amigos, não se esquecendo dos seus aniversários, fazendo a partilha da palavra de Deus. Pelas fotografias dava para ver os amigos que vinham de longe para o saudar. Até parecia que a amazónia ficava ao dobrar da esquina!
O amor aos pobres, não era letra morta mas algo que bebeu do carisma espiritano e que aprendeu a cultivar. No início da sua missão, sente-se profundamente marcado com a pobreza, a falta de assistência médica, a precariedade do ensino escolar e com as crianças abandonadas. Este amor traduz-se em angariar fundos junto dos seus amigos e familiares para apoiar localmente projetos como: Pastoral do Menor, Cáritas e da Pessoa Idosa.
Mas ele era também um verdadeiro pastor que investia muito na formação catequética de crianças; na pastoral juvenil; na animação litúrgica; na formação de novos líderes comunitários; na construção de salões, capelas e Igrejas.
À sua mensagem de “despedida” não pude ficar em silêncio. Partilho aqui, em jeito de confissão, as palavras que lhe dirigi: “Olá Pe. António Jansen. Esta não era a notícia que esperava receber! Mas ninguém de nós sabe o dia e hora… No entanto, quero dizer-lhe o quanto você tem sido importante na minha vida como missionário. O seu testemunho, simplicidade e paixão pela missão me contagiaram e me ajudaram a ser mais Espiritano. Até nesta hora, as suas palavras, apesar da dor e fragilidade, são de paz e confiança. Dou graças a Deus pela sua vida alegre, por todos os talentos colocados ao serviço do Reino, pelo seu testemunho de homem de Deus. Dou graças a Deus pela vida de tantos Espiritanos que me marcaram e nesta circunstância irei rezar mais e estarei próximo com as minhas orações e amizade de sempre. Que a presença de tantos espiritanos e cuidadores o ajudem nesta fase de sua vida. Fique bem, com Deus e em paz. Um abraço forte, emotivo, mas cheio de confiança em Deus que chama a todo o momento. Cor unum et anima una. Hugo Ventura”.
E até na morte este missionário espiritano foi um sinal: morreu no dia de Pentecostes. Obrigado Deus!