«A contribuição que uma Europa organizada e viva pode dar à civilização é indispensável para a manutenção de relações pacíficas».
Recupero esta afirmação da Declaração Schuman, de 1950, a propósito da turbulência que se vive em torno dum Brexit ainda não resolvido.
Robert Schuman, político democrata-cristão que é considerado um dos «pais da construção europeia», sonhava uma Europa de mãos dadas contra a guerra e a favor de um crescimento económico emergente no meio da Guerra Fria. Países ligados, fronteiras abertas como mãos que se estendem, políticas comuns enlaçadas num abraço federalista. As «relações pacificas» que profetizava exprimiam uma estratégia de política internacional negociada em fóruns supranacionais que garantiriam a tranquilidade de vida dos cidadãos.
Ora, justamente, a Europa são os cidadãos, pessoas simples vivendo entre alegrias e dificuldades, ciosas da sua identidade e, muitas vezes, manipuladas a partir dela. O elevado abstencionismo nas eleições europeias, o debate sobre o Brexit e as (infelizmente) inúmeras manifestações de intolerância e xenofobia são prova evidente de que (com razão ou sem ela) os europeus não se identificam com uns «Estados Unidos da Europa».
Não bastam intenções políticas para construir uma Europa das pessoas. A Declaração Schuman (sem dúvida um texto notável) não bastou para unir as pessoas, os sucessivos Tratados não geraram uma fraternidade europeia. Essa só pode brotar das próprias pessoas em relação, do amor ao próximo, para lá de estratégias ou interesses. Do Evangelho, enfim, bem o sabemos: a tradição cristã da cultura europeia e a eterna novidade da Palavra de Cristo ecoando no coração de cada homem podem operar o milagre através das práticas políticas.
Em suma: para uma Europa das pessoas, talvez seja urgente um maior testemunho de Evangelho.