3º Domingo da Quaresma
De simples fenómeno raro, a suscitar a sua curiosidade, a sarça ardente passa a ‘marco’ na vida de Moisés. É através dela que Deus se lhe revela e o chama. É aí que Moisés decide abandonar a vida pacata de pastor, para enfrentar as iras do Faraó e a incompreensão e, até, hostilidade dos seus irmãos, resignados com a sua atual condição.
Dentro do seu coração esta chama resistiu a (quase) tudo, para levar por diante o projeto de Deus em favor do seu povo. Por isso, na bênção final que dá ao seu Povo e em jeito de testamento, dirá Moisés: “possa o favor d’Aquele que habitou na sarça repousar sobre a cabeça de José” (Deut. 33,16).
Na vida de cada chamado/a há sempre uma sarça ardente, que o/a atraiu e levou a encontrar-se com este Deus diferente, apenas preocupado com a sorte dos homens. Seguiu-se o “descalçar” de nós próprios, dos nossos gostos, dos nossos projetos, do nosso comodismo, para abraçarmos o projeto de Deus, por mais incómodo que ele seja. E, a partir daí, toca a caminhar, porque esta chama não dá sossego e os homens precisam de nós!
Se isto é verdade particularmente em relação às chamadas vocações de ‘especial consagração’ (sacerdócio e vida consagrada), é-o igualmente para todas as outras vocações, designadamente a matrimonial. Com efeito, a ‘sarça ardente’ é o grande símbolo do amor – de Deus e nosso: contrariamente ao que acontece com tudo o resto, o amor que se consome não se (des)gasta. Pelo contrário, ateia-se ainda mais. Na verdade, pretender guardar o amor é asfixiá-lo!
A Quaresma é o tempo favorável para deixarmos tornar mais intensa a chama da nossa ‘sarça ardente’, nomeadamente pela prática das obras de misericórdia, correspondendo ao apelo do papa Francisco: [Nesta Quaresma], “poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos… Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo” (da Bula ‘O Rosto da Misericórdia’).É este o apelo de Deus hoje. Possa Ele encontrar em cada um(a) de nós um Moisés disposto e pronto a abraçar a sua causa!