Editorial
O P. José Manuel Sabença, 2º Assistente Geral dos Espiritanos, faleceu a 14 de dezembro de 2016, aos 56 anos. Ainda estou a tentar acordar do pesadelo que foi a doença e a sua morte tão prematura. Há mortes que doem mais que outras, pela ligação que temos às pessoas. O Zé Manel e eu crescemos juntos nos Seminários Espiritanos, trabalhamos juntos em muitas Missões nos últimos 30 anos. Fui seu Assistente nos três mandatos de Superior Provincial que ele exerceu, a partir de Lisboa (2003-2012). O choque da notícia do seu tumor nos pulmões ainda hoje ecoa nos meus ouvidos. Mas Deus sabe sempre o que faz e a sua recompensa antecipada é prémio mais que merecido. Nós é que ficamos mais pobres aqui e a separação tão trágica vai continuar a ser ferida aberta.
Se a sua vida sempre foi um hino à Missão, os seus dias de calvário e o momento da sua morte são um livro aberto de uma Fé quase sem limites. O seu leito de morte foi púlpito de vida. Na hora da sua partida ele já tinha quase tudo programado, até a cor branca dos paramentos do seu funeral!
Privei tantos momentos fantásticos durante a sua vida mais ativa e fui também privilegiado na hora em que a dor e o limite tentaram tomar conta dele. Sempre que o visitava, no hospital ou no Seminário, tinha direito a um momento a sós em que me emocionava a sua serenidade e os conselhos (hoje ninguém gosta de os receber!) que me ia dando. Guardo-os no coração e alguns deles são mesmo só para mim.
Estou convencido de que os fundadores dos Espiritanos, a quem ele pedia tantos milagres de cura, fizeram o seu trabalho: como é possível, sem especial força divina, suportar tantas dores e limites e continuar com uma fé, um sentido de Missão e uma felicidade únicas? Este, sim, é o grande milagre, a que assisti muitas vezes, entre junho e dezembro.
Recebi centenas de mensagens de pesar e solidariedade por ocasião da morte do P. Zé Manel, que publicamente agradeço. Vieram de todo o mundo e de todos os cantos de Portugal. Mostraram-me como ele era querido e como a sua Missão marcou tanta gente, dentro e fora da Igreja, desde bispos a autarcas, de catedráticos a gente simples do nosso bom povo.
Um mês depois, os sinos voltaram a tocar por esse país acima e abaixo e muita gente se sentiu convocada para rezar e dar graças a Deus pela vida e Missão deste Missionário Espiritano. Um dos gestos que mais calou fundo no meu coração foi a vinda do P. John Fogarty, de Roma. Ele é o Superior Geral dos Espiritanos, líder da ‘equipa’ em que o P. Sabença era 2º Assistente. Estava em Taiwan aquando da morte e do funeral e, logo no regresso, quis vir a Portugal para encontrar a Mãe e a Família, bem como todos os Espiritanos Portugueses. A Eucaristia celebrada, em tarde de muito frio, na Penajóia-Lamego, na presença da família e conterrâneos, foi momento forte de comunhão, de gratidão e de suporte à dor que a todos ainda marca.
Este número especial da ‘Missão Espiritana’ não mereceu qualquer discussão editorial, pois era algo que se impunha. Fizemos uma selecção de textos que o P. José Manuel escreveu ao longo de algumas décadas, a que juntamos depoimentos de quem com ele privou e dele recebeu e recebe testemunho, força e inspiração.
A revista ‘Encontro’ manteve colunas fixas do P. José Manuel meses a fio. Recordo, a título de exemplo, a ‘Missionário, porquê?’, escrito da África do Sul (1994 e 1995) e ‘Intervalo’, já produzido no Porto, em 1998, quando era responsável pela formação de futuros Espiritanos. Também é justo referir a participação do P. José Manuel na rubrica ‘Uma semana com…’ que o jornal ‘Voz da Verdade’ lançou em 2010 para dar a conhecer o dia a dia dos padres no Patriarcado de Lisboa. O P. J. Manuel esteve online de 6 a 12 de Março de 2010. Não incluímos estes textos na colectânea de homenagem porque era importante fazer escolhas, dada a natural limitação de espaço que estas publicações impõem.
Estamos gratos a Deus pelo P. José Manuel que nos deu. Sejamos dignos da herança que recebemos. A Missão continua em força.
P. Tony Neves