31º Domingo do Tempo Comum
São verdadeiramente fortes e corajosas as censuras que, tanto o profeta Malaquias como o próprio Cristo, dirigem aos sacerdotes do seu tempo, não só por terem profanado e banalizado o culto a que presidiam, mas também pelo contra-testemunho de suas vidas. A partir do que sucedeu a Cristo, facilmente podemos imaginar que Malaquias não terá tido melhor sorte!
Se é verdade que estas bem tristes realidades não podem ser pura e simplesmente transpostas para os nossos dias e, muito menos, serem simploriamente generalizadas, também não deixa de ser verdade que estes textos nos convidam a um sério exame de consciência e constituem um verdadeiro alerta para que tais situações não se perpetuem, porque a sedução do poder e da vanglória, a ambição da riqueza, o risco do ritualismo e de uma condescendência tácita e silenciosa pelo mais fácil e mais agradável, são tentações de todos os tempos, contra as quais ninguém está definitivamente vacinado.
Bem diferente é o exemplo dado por S. Paulo: “como a mãe que acalenta os filhos que anda a criar, assim nós também, pela viva afeição que vos dedicamos, desejaríamos partilhar convosco, não só o Evangelho de Deus, mas ainda a própria vida, tão caros vos tínheis tornado para nós. Bem vos lembrais, irmãos, dos nossos trabalhos e canseiras. Foi a trabalhar noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, que vos pregámos o Evangelho de Deus”.
Aliás, esta é uma preocupação bem presente nos documentos da Igreja do nosso tempo. João Paulo II, dirigindo-se aos sacerdotes, escrevia: “a vossa obra na Igreja é verdadeiramente necessária e insubstituível. Vós suportais o peso do ministério sacerdotal e tendes contacto quotidiano com os fiéis. Sois os ministros da Eucaristia, os dispensadores da misericórdia divina no sacramento da Penitência, os consoladores das almas, os guias de todos os fiéis nas tempestuosas dificuldades da vida”.
Mas lembrava-lhes que a ‘caridade pastoral’ deve ser o seu lema: “o conteúdo essencial da caridade pastoral é o dom de si, o total dom de si mesmo à Igreja, à imagem e com o sentido de partilha do dom de Cristo. A caridade pastoral é aquela virtude pela qual nós imitamos Cristo na entrega de si mesmo e no seu serviço. Não é apenas aquilo que fazemos, mas o dom de nós mesmos que manifesta o amor de Cristo pelo seu rebanho. A caridade pastoral determina o nosso modo de pensar e de agir, o modo de nos relacionarmos com as pessoas. E não deixa de ser particularmente exigente para nós” – (Pastores Dabo Vobis, nº 23).
Embora os primeiros destinatários desta mensagem sejamos nós, os sacerdotes, faremos bem em perguntarmo-nos todos: Que sacerdotes queremos nós? Estamos dispostos a dar o nosso contributo e o nosso apoio para termos sacerdotes “segundo o coração de Jesus” ou ficamo-nos apenas por uma crítica, tantas vezes barata e de extrema ligeireza?