“‘Louvado sejas, meu Senhor,’ cantava S. Francisco de Assis…” foi a forma que o Papa Francisco escolheu para começar a primeira Encíclica da Igreja sobre a Ecologia: ‘Laudato si. Sobre o cuidado da casa comum’, publicada a 24 de Maio de 2015. S. Francisco é o ‘exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade (…). Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus e pelos mais pobres e abandonados (…). Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior’ (nº10).
Palavra de Deus
No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas.
Deus disse: «Faça-se a luz.» E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia.
Deus disse: «Haja um firmamento entre as águas, para as manter separadas umas das outras.» E assim aconteceu. Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam sob o firmamento das que estavam por cima do firmamento. Deus chamou céus ao firmamento. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o segundo dia.
Deus disse: «Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca.» E assim aconteceu. Deus chamou terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom.
Deus disse: «Que a terra produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que dêem fruto sobre a terra, segundo as suas espécies, e contendo semente.» E assim aconteceu. A terra produziu verdura, erva com semente, segundo a sua espécie, e árvores de fruto, segundo as suas espécies, com a respetiva semente. Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o terceiro dia.
Deus disse: «Haja luzeiros no firmamento dos céus, para separar o dia da noite e servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos; servirão também de luzeiros no firmamento dos céus, para iluminarem a Terra.» E assim aconteceu. Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento dos céus para iluminarem a Terra, para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia.
Deus disse: «Que as águas sejam povoadas de inúmeros seres vivos, e que por cima da terra voem aves, sob o firmamento dos céus.» Deus criou, segundo as suas espécies, os monstros marinhos e todos os seres vivos que se movem nas águas, e todas as aves aladas, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom. Deus abençoou-os, dizendo: «Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar e multipliquem-se as aves sobre a terra.» Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quinto dia.
Deus disse: «Que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais ferozes, segundo as suas espécies.» E assim aconteceu. Deus fez os animais ferozes, segundo as suas espécies, os animais domésticos, segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom.
Depois, Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei, multiplicai–vos, enchei e submetei a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra.» Deus disse: «Também vos dou todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que existem e se movem sobre a terra, igualmente dou por alimento toda a erva verde que a terra produzir.» E assim aconteceu. Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia.
Gén. 1, 1-31
A urgência do diálogo
É um documento que pretende abrir um diálogo alargado sobre a urgência de amar e cuidar da casa comum que é a Terra. Diz: ‘Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou’ (nº2). Há eixos que atravessam toda a encíclica: ‘a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura do descartável e a proposta de um novo estilo de vida’ (nº 16).
Contra a indiferença, Francisco quer dirigir-se a cada pessoa do planeta para entrar em diálogo com todos acerca desta casa comum. É urgente fazer uma mudança radical de comportamento, uma conversão ecológica global. Exigem-se ‘mudanças profundas nos estilos, nos modelos de produção e consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades’ (nº5).
A preocupação ecológica é comum a todos, incluindo cientistas, filósofos, teólogos e organizações sociais. Há que proteger a Terra e unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral. O diálogo ajudará a encontrar caminhos.
Pistas de reflexão
- O diálogo que propõe o Papa Francisco vai ajudar a resolver o quê?
- Como podemos lutar contra a indiferença de que fala o Papa?
Atentados contra a Mãe Terra
A poluição e as mudanças climáticas põem em causa o futuro da humanidade. A terra tornou-se depósito de lixo. Há que adoptar um modelo que limite o uso dos recursos não renováveis, moderando o seu consumo e apontando na reutilização e reciclagem.
O aquecimento climático atacará os mais pobres que não se conseguem adaptar aos impactos nem enfrentar as situações catastróficas por ele provocado. Aumentarão os emigrantes em fuga da miséria e nota-se uma indiferença geral perante estas tragédias.
Séria é a questão da água potável. Está a avançar muito a onda da privatização que a coloca sujeita às leis do mercado, o que vai gerar grandes conflitos no futuro. Há ataques constantes aos pulmões do planeta, como é a Amazónia, a bacia fluvial do Congo e os grandes lençóis freáticos e os glaciares. Os oceanos, rios e lagos estão muito poluídos e muitas espécies mortas por certos tipos de pesca.
Muitas cidades cresceram demais e não são saudáveis. As inovações tecnológicas também estragam a qualidade de vida e provocam degradação: ‘a exclusão social, a desigualdade no fornecimento e consumo de energia e doutros serviços, a fragmentação social, o aumento da violência e o aparecimento de novas formas de agressividade social, o narcotráfico e o consumo crescente de drogas entre os mais jovens, a perda de identidade’ (nº46). As tecnologias da comunicação estão a trazer muita informação mas pouca sabedoria e cultura.
Os atentados ecológicos esmagam sempre os mais pobres. O consumismo leva ao desperdício e a comida que se deita fora dava para alimentar a multidão dos famintos do mundo.
Pistas de reflexão
- De todos os atentados quais os que mais me preocupam?
- Que posso eu fazer, em concreto, para ser mais ‘ecológico’?
Compromisso
Oração pela nossa Terra
Deus Omnipotente, que estais presente em todo o universo
e na mais pequenina das vossas criaturas,
Vós que envolveis com a vossa ternura
tudo o que existe, derramai em nós a força do vosso amor
para cuidarmos da vida e da beleza.
Inundai-nos de paz, para que vivamos como irmãos e irmãs
sem prejudicar ninguém.
Ó Deus dos pobres,
ajudai-nos a resgatar os abandonados e esquecidos desta terra
que valem tanto aos vossos olhos.
Curai a nossa vida, para que protejamos o mundo
e não o depredemos,
para que semeemos beleza e não poluição nem destruição.
Tocai os corações daqueles que buscam apenas benefícios
à custa dos pobres e da terra.
Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa,
a contemplar com encanto,
a reconhecer que estamos profundamente unidos
com todas as criaturas no nosso caminho para a vossa luz infinita.
Obrigado porque estais connosco todos os dias.
Sustentai-nos, por favor, na nossa luta pela justiça, o amor e a paz.
P. Tony Neves