Recebi, com muita alegria, a notícia da celebração dos 40 anos da fundação dos Jovens Sem Fronteiras. O grande evento comemorativo será o Encontro Nacional JSF, este ano com lugar marcado para a Paróquia do Monte Abraão, em Sintra. E, nesse grande Encontro, todos quantos se identificam com este ideal JSF são convidados, ‘a 30 de setembro, para a Eucaristia às 18 horas, seguida de uma gala às 20 horas’ – é o que consta no programa oficial, difundido pelas redes sociais.
Não há nada mais humano que fazer memória agradecida do bom que a vida nos proporcionou. Eu não posso nunca esquecer os meus 20 anos nos Jovens Sem Fronteiras e a riqueza de pessoas, acontecimentos e geografias que marcaram para sempre a minha vida de missionário. Não olho para trás com a nostalgia de quem acha que ‘no meu tempo é que era bom!’, nem choro ‘cebolas do Egipto’, pois o passado já foi e o importante é viver o presente com compromisso e preparar o futuro com esperança. A celebração dos 40 anos dos JSF é isto mesmo: um pretexto enorme para dar graças a Deus pelo muito já feito, por quanto os jovens puderam crescer e fazer, mas, sobretudo, encarar o hoje e o amanhã como tempos de Deus onde há tanto bem ainda a construir.
Nada na vida acontece por acaso, e esta celebração JSF tem lugar depois das fantásticas Jornadas Mundiais da Juventude, onde tantos JSF de hoje e de ontem deram o seu melhor para que Portugal se tornasse, por uns dias, a capital da juventude e da missão. Foi tudo muito bom e as pré-jornadas, realizadas em contexto Espiritano, em torno das comunidades de Godim-Régua, Fraião-Braga, Silva-Barcelos, Pinheiro Manso – Porto e Torre D’Aguilha-Cascais foram momentos fortes de partilha e experiência de uma missão à escala do mundo, verdadeiramente sem fronteiras.
Mas voltemos à história com as suas lições. Corriam os anos 80 quando os Espiritanos decidiram apostar na pastoral juvenil. A Animação Missionária Espiritana era já muito forte, pois tinha a LIAM, o Movimento Missionário de Professores, a Associação dos Antigos Alunos dos Seminários (ASES), mas faltava uma focagem no planeta jovem. Foi, então, chamado a Portugal um jovem missionário que tinha trabalhado em Cabo Verde nos tempos desafiantes da independência e estudara Sociologia em Estrasburgo: o P. Firmino Cachada. Foi ele o fundador dos JSF naquele já longínquo 1983, ficando para a história um quinteto de adolescentes da Foz do Arelho (Caldas da Rainha) como marco simbólico de Grupo nº1. Rapidamente esta onda se alastrou ao resto do país (com os Padres Arlindo Amaro e António Farias a lançar no norte) e mesmo a outros quadrantes do globo, com grupos a nascer no mundo da emigração (Clamart – França, com o P. José Manuel Sabença) ou como resultado de experiências missionárias em África (Cabo Verde, Angola, S. Tomé…).
Os Grupos JSF foram nascendo em contexto de paróquias, com o objetivo de as ajudar a ser mais missionárias. Chegaram a ser quatro dezenas, divididos em quatro Regiões: Minho, Douro, Centro e Sul. Semana após semana, os jovens reuniam-se nas suas paróquias para tempos de formação. Lançaram-se tempos fortes de oração. A Formação de Animadores, os Encontros Regionais, os Retiros, os Encontros Nacionais, as Semanas Missionárias, as Peregrinações a Fátima, os ‘Fátima Jovem’, os ‘Fórum Ecuménico Jovem’, as participações em ‘Jornadas Mundiais da Juventude’…foram apostas fortes que deram os seus frutos.
A dimensão ‘sem fronteiras’ esteve presente desde a primeira hora com a organização das ‘Pontes’ que, quase todos os anos, levavam alguns jovens até Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, S. Tomé ou Brasil, para um mês de intensa partilha de fé e vida com comunidades que acolhiam estes projetos missionários em tempos de férias. Também se desenvolveu o Voluntariado Missionário que integrava missões mais longas, de 1 a 3 anos numa das linhas da frente da Missão.
Dez anos mais tarde, em 1993, o P. Firmino lançaria a ONGD ‘Sol Sem Fronteiras’, para dar profissionalismo à elaboração e concretização de projetos de desenvolvimento e solidariedade. Esta grande instituição celebra 30 anos de intensa Missão. Parabéns.
O passado foi feliz, o presente é desafiante e o futuro tem de ser construído a partir de agora. O mundo está a mudar a alta velocidade e apanhar o comboio da história é missão complexa. As Jornadas Mundiais da Juventude foram uma lufada de ar fresco e os JSF têm de aproveitar este impulso para renovar e continuar a abrir caminhos de fé, solidariedade e fraternidade. Afinal de contas, mantém-se atual a imagem de marca deste Movimento Missionário bem expressa no grande slogan: ‘Estar perto dos que estão longe, sem estar longe dos que estão perto!’. Força, fé, coragem, inspiração e compromisso. Assim, a Missão vai continuar e nem as ondas altas como as da Nazaré deixarão de ser bem surfadas!