O Papa Francisco investe muito na proximidade entre as pessoas e das pessoas com Deus. Hoje convida-nos a meditar o sentido do perdoar e pedir perdão; duas faces duma mesma realidade porque nenhuma existe sem a outra. “Se eu não sou capaz de perdoar, não sou capaz de pedir perdão”.
Palavra de Deus
O Reino do Céu é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo ao princípio, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens, a fim de pagar a dívida. O servo lançou-se, então, aos seus pés, dizendo: ‘Concede-me um prazo e tudo te pagarei.’ Levado pela compaixão, o senhor daquele servo mandou-o em liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: ‘Paga o que me deves!’ O seu companheiro caiu a seus pés, suplicando: ‘Concede-me um prazo que eu te pagarei.’ Mas ele não concordou e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto lhe devia. Ao verem o que tinha acontecido, os outros companheiros, contristados, foram contá-lo ao seu senhor. O senhor mandou-o, então, chamar e disse-lhe: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?’ E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo o que devia.
Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração.
Mt 18, 23-35
Perdoar
O Papa falou de três parábolas ditas de misericórdia e acrescenta que há outra parábola que nos ajuda para a nossa vivência cristã. Cita o episódio de Pedro quando pergunta sobre quantas vezes era necessário perdoar. Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18, 22). Adverte que o perdão de Deus para nós e o nosso perdão aos outros estão ligados e somos chamados a perdoar «sempre» como Deus nos perdoa.
A seguir a este episódio, Cristo contou a parábola do «servo sem compaixão». O servo sem compaixão, embora o seu patrão lhe tivesse perdoado a sua grande dívida, quando encontrou outro servo como ele, que lhe devia poucos centésimos recusa-se a usar de misericórdia e manda-o prender. «Então o senhor, tendo sabido do facto, zanga-se muito e, convocando aquele servo, diz-lhe: « Não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?» (Mt 18, 33). E Jesus concluiu: «Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração» (Mt 18, 35).
Dito isto, o perdão é um ato que deve brotar do coração. Não é só o cumprimento duma lei exterior. É mais que esquecer uma ofensa do irmão, é mais que ignorar que o outro me magoou. Perdoar não significa anestesiar meu coração à ofensa sentida. Perdoar é abrir «os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privadas da própria dignidade.» É sentirmo-nos «desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade.» Perdoar é libertar o outro e me libertar a mim do jugo do ódio, da vingança. Na homilia da Missa a que presidiu o Papa Francisco na capela da Casa de Santa Marta, ele disse: “Deus sempre perdoa, sempre, mas pede que eu perdoe. Se eu não perdoo, de certo modo fecho as portas ao perdão de Deus”. Ao perdoar o outro, ouço o seu grito que se torne o meu para que «juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo».
Pistas de reflexão
- É possível hoje na nossa sociedade perdoar verdadeiramente como Jesus nos pede?
- Quais são os acontecimentos da nossa vida em que temos mais dificuldade em perdoar?
Pedir perdão
«Deus não se cansa de estender a mão.» É uma das frases preferida do Papa. Convida-nos a mediatar a oração do Pai-Nosso, com a firme certeza que Deus perdoa sempre mas cansamo-nos de lhe pedir perdão. Todavia, o Papa ressalva um pormenor muito importante: «Pedir perdão é outra coisa, é diferente de pedir desculpa. Eu erro? Mas me desculpe, errei… Pequei! Não tem nada a ver uma coisa com outra. O pecado não é um simples erro. O pecado é idolatria, é adorar o ídolo, o ídolo do orgulho, da vaidade, do dinheiro, do “eu mesmo, do bem-estar… Tantos ídolos que nós temos. E, por isso, Azarias não pede desculpas: pede perdão”. Recorda o Papa que diante da visão duma justiça como mera observância da lei, que julga dividindo as pessoas em justos e pecadores, Jesus procura mostrar o grande dom da misericórdia que busca os pecadores para lhes oferecer o perdão e a salvação. O pedido do perdão deve ser feito com sinceridade, e concedido de coração a quem ofendeu. Na parábola do «servo sem compaixão» o senhor deixou-se tocar pela compaixão diante das súplicas de um dos seus servos e perdoa-lhe uma grande dívida.
Quais os caminhos para pedir perdão? O Papa retoma num primeiro momento as próprias palavra de Cristo: «Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco».
No segundo momento apresenta a importância do sacramento da reconciliação com o apelo especial aos pastores. Afirma o Papa: «a palavra do perdão possa chegar a todos e a chamada para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente». E continua: «Seja-lhes pedido que celebrem o sacramento da Reconciliação para o povo, para que o tempo de graça, concedido neste Ano Jubilar, permita a tantos filhos afastados encontrar de novo o caminho para a casa paterna. Os pastores, especialmente durante o tempo forte da Quaresma, sejam solícitos em convidar os fiéis a aproximar-se do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça».
Pistas de reflexão
- O sacramento da reconciliação é uma necessidade para a vida cristã ou simplesmente penso que é importante mas posso dispensar?
- Quais são as formas que tenho para pedir perdão a Deus e aos irmãos
Compromisso
Penso de modo particular nos homens e mulheres que pertencem a um grupo criminoso, seja ele qual for. Para vosso bem, peço-vos que mudeis de vida.
Não caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade.
Não nos cansemos de ir também ao encontro do outro filho, que ficou de fora incapaz de se alegrar, para lhe explicar que o seu juízo severo é injusto e sem sentido diante da misericórdia do Pai que não tem limites.
P. Dex-Steve Goyeko