Olá.
Eu sou Cláudio Francisco Poullart des Places. Habitualmente, chamam-me pelos apelidos familiares, certamente que para ti são nomes um pouco esquisitos, mas foi os que herdei dos meus pais.
Sabes, eu nasci em Rennes (França) a 26 de Fevereiro de 1679, no seio de uma família rica e nobre e, como tal, recebi esmerada educação humana e cristã. Mais do que o normal das crianças desse tempo, pude estudar no Colégio dos Jesuítas, sendo encaminhado pelos meus pais para a advocacia e a carreira parlamentar, coisa que sempre eles gostavam.
Não é para me gabar, mas sempre fui um aluno brilhante, e conclui o curso de Direito aos 21 anos! Os meus pais estavam eufóricos com tudo isso, mas a verdade é que eu sentia que os caminhos de Deus para mim eram outros – caminhos que descobri no retiro que fiz logo após a “Sessão Solene” de conclusão do curso e durante o qual procurei descobrir a vontade de Deus a meu respeito. Foi um retiro onde fiz esta oração: “Entrego-me inteiramente à vossa divina Providência… Dignai-vos dar-me a conhecer o que quereis que eu faça… no estado de vida que vier a abraçar para sempre que eu não tenha senão em vista agradar-Vos… que eu encontre um Ananias que me mostre o verdadeiro caminho…”. Que te parece? Estava inspirado, não?! Era apenas a acção da Graça de Deus em mim.
Continuando, no ano seguinte (1701) decidi iniciar o curso de Teologia para me tornar padre. Logo como seminarista, comecei a interessar-me pelas crianças abandonadas da rua, a quem dei catequese. Isto impressionava-me muito. Queres saber mais em concreto, comecei por me voltar para os chamados “limpa-chaminés!’, esses pobres garotos que, para sobreviver, faziam este trabalho extremamente gravoso para a sua saúde. Não me sentia bem vê-los assim abandonados e explorados. Então comecei por repartir a minha comida com eles, e eu tentava contentar-me com as ‘sobras’ dos jesuítas.
Se queres saber, foi por aqui que lancei a semente da minha obra, o SEMINÁRIO DO ESPÍRITO SANTO. Acima de tudo, tratava-se de apoiar um grupo de jovens que viam vedado o acesso ao sacerdócio, pois não dispunham de recursos para custear as despesas do seminário. Mas não fiz isto sozinho. Apoiado pelo meu director espiritual e uma vez garantidos, pelo ecónomo, os ‘restos’ da comida dos jesuitas, propus que fossemos viver, como primeiro grupo, na “Rue des Cordiers “. Aí nos consagramos ao Espírito Santo e à Santíssima Virgem Concebida sem Pecado, diante da imagem de Nossa Senhora do Livramento na festa do Pentecostes de 1703, a 27 de Maio. Um dia tão bonito para nunca mais esquecer.
Sabes, nessa altura eu tinha apenas 24 anos de idade e não passava de um simples seminarista! Porque queria, de verdade, apostar por esta obra, percebi que me tinha de despojar de tudo, até de mim próprio, a fim de garantir o seu bom êxito. Por isso, renunciei à pensão que o meu pai me enviava todos os meses, ficando para mim com o mínimo indispensável, comendo pouco e daquelas comidas simples, não dormia mais que três horas por noite, sobre uma cadeira, para dedicar o resto da noite à oração. Era assim que entendia a forma de melhor me dar a Deus.
Uma vez iniciada essa obra da formação de seminaristas pobres, lançamos as condições para as admissões à Comunidade do Espírito Santo. Como deves imaginar, essas condições baseavam-se na vontade expressa dos candidatos quererem ser padres e serem realmente pobres! Por isso, estipulamos o seguinte: “Não se aceitará, seja sob que pretexto for, quem possa pagar a sua pensão. Aceitar-se-á, contudo, alguém que não esteja em extrema pobreza, mas que sinta grandes dificuldades no seu ganha-pão, mas a esses exigir-se-á uma pequena quantia para obviar às despesas do dia-a-dia”. Foi assim que marcamos os primeiros passos.
Desta maneira começamos a formação sacerdotal desta nova Congregação do Espírito Santo em 1703. O interessante de tudo isto, é que não fui eu o primeiro padre a ser ordenado nesta obra. A minha ordenação aconteceu apenas a 17 de Dezembro de 1707. Enfim, é verdade que eram tempos difíceis, mas também eram bonitos para viver esta opção de vida.
Entretanto, a minha saúde nunca foi brilhante. Tanto assim que em 1909 começou a deteriorar-se seriamente. Foi um ano terrível, que até ficou marcado na memória dos Franceses como o Inverno mais rigoroso e mais frio de que havia memória. Só para ficares a saber, em Paris, em dois meses, morreram mais de 24.000 pessoas! Muita gente não aguentou esse Inverno, e eu também me senti muito mal. Foi no mês de Setembro, que fui acometido de uma pleurisia e de uma contínua febre alta, que me levou à morte no dia 2 de Outubro de 1909, com apenas 30 anos de idade!
Sabes, como a minha opção de vida foi pelos mais pobres, também fui sepultado numa vala comum do pequeno cemitério paroquial. Como pai desse grupo de seminaristas pobres, pois grande era o meu amor por todos eles, sempre procurei abraçar uma vida de pobreza evangélica, o que me levou a partilhar também a sepultura desses mais pobres!
Vou ficar por aqui. Como vês, foi uma vida breve mas intensa e cheia de muitas coisas e bonitas. Fico ainda mais contente quando vejo que no século XXI existe um grande grupo de Espiritanos que continuam essa mesma obra missionária junto dos mais pobres. Já os conheces? Se não, deixo-te aqui o desafio de ires falar com eles, verás que vale a pena arriscar por aqui.
Um abraço amigo.
Poullart des Places