Do Papa Francisco, à conversa com Austen Ivereigh
É mais um livro do Papa Francisco. É ele o autor, porque Austen Ivereigh, escritor e jornalista britânico, diz que se limitou a conversar, em junho e agosto de 2020, fazer perguntas e a tratar as respostas, devolvendo-os ao Papa que as assumiu como suas. A crise pandémica fechou-nos em casa e obrigou a repensar a vida, os valores praticados e os compromissos assumidos (ou não). Segundo o jornalista, o Papa não respondeu à crise oferecendo diagnósticos e receitas, mas foi mais longe e mais fundo. O Papa quer chamar a atenção para as outras ‘pandemias’ que matam o mundo de hoje, desde as guerras aos refugiados, da produção ao tráfico de armas, das alterações climáticas à fome, doa abusos sexuais à globalização da indiferença, da escravatura ao tráfico humano. Diz: ‘o gasto com armas destrói a humanidade. É um coronavírus gravíssimo, mas, como as suas vítimas são invisíveis, não falamos a seu respeito’.
O esquema do livro reflecte o clássico ‘ver-julgar e agir’, tão presente nos textos eclesiais da América Latina, depois do Concílio Vaticano II. Assim, para além de um prólogo e de um epílogo (uma introdução e uma conclusão), tem o ‘Tempo de ver’ (I Parte), o ‘Tempo de escolher’ (2ª parte) e o ‘Tempo para agir’ (3ª parte).
Na 1ª parte, o Papa Francisco começa por afirmar: ‘sempre acreditei que o mundo se vê com mais clareza nas periferias, mas, nestes últimos sete anos como papa, acabei por comprovar a minha teoria’. Há que criar anticorpos contra o vírus da indiferença. Diz mais à frente: ‘a pandemia da covid 19 é o nosso ‘momento Noé’, contanto que encontremos a Arca dos laços que nos unem, da caridade, da pertença comum’. Deus pede-nos hoje uma cultura de serviço e não uma cultura de descarte. Sobre a sua proposta por uma ecologia integral, lembra que a nossa casa comum está doente e ameaçada, pois nos tornamos surdos aos gritos dos pobres e da natureza.
Na 2ª parte, o Papa aposta na gramática do Reino de Deus fornecida por Cristo nas Bem-Aventuranças. Há que apostar na Doutrina Social da Igreja, assente no bem comum, na opção preferencial pelos mais pobres, na destinação universal dos bens, na solidariedade e subsidiariedade. Há que discernir, o que implica abertura à novidade (sinais dos tempos) e condenação do ‘sempre se fez assim’.
Na 3ª parte, o Papa apela à ação. É urgente defender a vida em todos os momentos e contextos. Ninguém se salva sozinho e estamos todos na mesma tempestade. A fraternidade é hoje a nossa nova fronteira. Haja justiça e misericórdia e tudo o resto se obtém. Avancemos para uma conversão ecológica integral, apostando num estilo de vida simples e fraterno.
Paulus Editora