A sua partida, tão inesperada, pôs o mundo a evocar a grandeza de humanidade do Papa vindo – como ele disse – do fim do mundo. Mais ou menos refeitas do choque inicial, muitas pessoas partilharam o que a vida, palavras e missão deste homem inspiraram e vão continuar a marcar a história.
Fui, nestes dias, diversas vezes até à Praça de S. Pedro. À entrada, é impressionante a quantidade de câmaras de TV que enchem a Praça S. Pio X, com todas a apontar para a maior Basílica do mundo, construída sobre o túmulo de S. Pedro. Depois, marcaram-me as lágrimas que vi correr em tantos rostos, a mostrar que o amor e o reconhecimento não têm fronteiras, tal a diversidade de pessoas que ali vieram prestar uma última homenagem a Francisco.
Continuo a processar o que aconteceu nos últimos dias. O domingo de Páscoa foi um dia fantástico, com o Papa a aparecer à varanda da Basílica, a saudar (‘Buona Pascoa!’), e mandar ler a longa e profunda Mensagem pascal ‘Urbi et Orbe’ e, por fim, a dar uma bênção com uma voz sofrida, mas feliz. O que depois mais me cativou foi perceber, pelas movimentações da segurança na Praça, que o Papa viria saudar, de perto, aquela multidão imensa que quis celebrar a Páscoa em Roma, por ocasião do Jubileu da Esperança. Passou pertinho de mim, sorriu para todos, pegou e abençoou bebés e regressou feliz, mas cansado, à Casa Santa Marta, o lar que ele escolheu, desde a primeira hora, para simples residência papal.
Foi na companhia dos seus colaboradores mais próximos que ele viveu a tarde da Páscoa. Depois, foi dormir, acordou bem-disposto e um inesperado AVC abriu-lhe o caminho para a Casa do Pai, esse lugar de Paz eterna que ele tão bem foi abrindo nos 88 anos de intensa vida por terras da Argentina e de Roma.
O mundo inteiro – ou, pelo menos, uma boa parte dele – vergou-se e continua a inclinar-se diante de uma figura tão marcante dos tempos que correm. Políticos, pessoas públicas de todos os quadrantes e gentes simples do povo, multiplicaram elogios e salientaram algumas das atitudes, intervenções e escritos mais importantes deste pontificado do primeiro Papa latino-americano. Ouvi e li diversos testemunhos de pessoas que apresentaram o Papa Francisco como a grande referência mundial da atualidade. E – há que dizê-lo – muitas pessoas tornaram igualmente públicas as suas angústias, esperanças ou expectativas sobre o que vai acontecer à Igreja e ao mundo após este fim de mandato papal de Francisco. Por isso, além das muitas listas de eventuais ‘candidatos’ à sucessão apostólica deste Papa, multiplicaram-se as ‘apostas’, como se de futebol ou corridas de cavalos se tratasse!
A Missa de Corpo Presente, com centenas de milhares de pessoas na Praça de S. Pedro e todos os acessos, foi presidida pelo Cardeal Baptista Re, o decano dos Cardeais. Evocou, com simplicidade e profundidade, a vida e a missão deste Papa argentino que percorreu os caminhos do mundo, mas nunca regressou à sua terra natal. O Papa Francisco – em cumprimento ao seu testamento – foi sepultado em S. Maria Maior, a Basílica que ele visitava sempre antes e depois das suas viagens apostólicas, num ato de extrema confiança na Mãe. Também ali foi rezar no sábado 12 de abril, já depois de sair do Hospital Gemelli. A sua devoção a Nossa Senhora é muito antiga e profunda, como ele tanto gostava de repetir.
E agora? A vida continua, na Igreja e no mundo. Boa parte dos Cardeais eleitores está já em Roma e o Conclave vai começar. Este é sempre um momento forte para a Igreja. Por isso, há que deixar o Espírito Santo trabalhar, pois Ele tem de ser o protagonista destes tempos mais próximos.
Em breve teremos fumo branco a sair da chaminé da Capela Sistina e saberemos o nome do Cardeal sucessor de Francisco. Isolados do mundo, estes 135 Cardeais, com idades entre 45 e 79 anos, dos quais sete do Brasil, quatro de Portugal, um de Cabo Verde e um de Timor-Leste, a representar a lusofonia eclesial. Têm sobre eles a enorme responsabilidade de eleger aquele que será Francisco II, Bento XVII, João Paulo III, Paulo VII, João XXIV ou escolherá outro nome, como se sentir inspirado na hora de dizer bem alto que aceita esta desafiante Missão.
Aguardemos e rezemos. Que o Espírito fale mais alto!
Imagem de destaque: Vatican Media