Há mais de 50 anos que é assim. No primeiro dia do ano entramos pela porta da paz. Para a abrir, o Papa oferece-nos uma mensagem, este ano com o título “A boa política está ao serviço da paz”. Um adjetivo a qualificar a política antes do verbo. Como uma prevenção, ou uma vacina. A mensagem é clara, iluminadora e abrangente, e uma boa entrada no novo ano. Gostei particularmente das «bem-aventuranças do político» do cardeal Van Thuan, uma escada de virtudes que o Papa Francisco inseriu na sua mensagem.
Mas eu em matéria de política sou um desconfiado, queiram desculpar, são muitos anos e alguns países. “Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.” Foi no degrau desta bem-aventurança que me lembrei de um pregador que de política sabia muito. “Sabiamente falou quem disse que a perfeição não consiste nos verbos, senão nos advérbios”. A frase é do padre António Vieira, no Sermão do Primeiro Domingo do Advento (1655). Ele, que fustigava os políticos com verbos, advérbios, substantivos, adjetivos e o mais que a gramática lhe pusesse à mão, sabia do que falava e falava do que sabia. Os advérbios modificam os verbos, aprendemos na escola. E também modificam os políticos, aprendemos na vida. Basta que entre o advérbio de afirmação “sim” a substituir o de negação “não”. Ou que este permaneça, mas mude de cadeira: “…o político que não trabalha para o bem comum e sim para os próprios interesses”. Ou então que entre um terceiro advérbio, de dúvida: “…o político que talvez trabalha para o bem comum…”
Como dizia, três advérbios entram na política. O bar foi só para chamar a atenção, um isco para atrair leitores. Eu informei-vos, são muitos anos a ouvir políticos.
Que 2019 nos traga boa política ao serviço da paz. Mas só haverá boa política se houver bons políticos que não troquem os advérbios.
Que 2019 nos traga boa política ao serviço da paz. Mas só haverá boa política se houver bons políticos que não troquem os advérbios.
“Crónica” é uma rubrica mensal do jornal “Ação Missionária“, pelo P. Aristides Neiva