O Papa Francisco aterrou no Sudão do Sul, o mais jovem país independente, na tarde de 3 de fevereiro. A viagem teve de ser adiada, por causa dos problemas de saúde que o limitam, mas nunca passou pela cabeça de Francisco adiar esta visita tão importante como simbólica a um dos lugares mais violentos do planeta. A Irmã Beta Almendra, comboniana a viver neste país, recordava a extrema pobreza do povo e a violência sem precedentes que vitima as pessoas, havendo mortes todos os dias. Ela acreditou, desde a primeira hora, no impacto positivo da visita do Papa, pois poderá ajudar o processo de paz em curso. Há muita fome, a maioria da gente só consegue comer uma vez por dia, falta-se demais à escola, o povo não tem emprego. Também D. Christian Carlasse, Bispo de Rumbek, partiu com o seu povo numa peregrinação pela Paz, desde a sede da diocese até á capital Juba, para encontrarem o papa Francisco. Saíram a 25 de janeiro e fizeram 350 kms! Esta caminhada é tanto mais simbólica quanto o Bispo teve de testar a sua capacidade de andar, uma vez que foi vítima de um atentado e levou vários tiros nas pernas, tendo sido evacuado para o Quénia, em risco de morte, a fim de ser tratado! Mesmo assim, arriscou esta peregrinação com o seu rebanho, tudo em nome da pacificação do país. Os Espiritanos chegaram à Diocese de Rumbek em 2012.
Em Kinshasa, o Papa já tinha deixado mensagens fortes de reconciliação, acompanhadas de denúncias lúcidas e corajosas á situação dramática de boa parte da população congolesa. No Sudão do Sul, o tom foi semelhante.
Neste jovem país, o Papa Francisco, acompanhado pelo Arcebispo Justin Welby (primaz anglicano) e pelo Pastor Iain Greenshields (líder da Igreja da Escócia), começou por dizer que uma ‘Peregrinação Ecuménica pela Paz’ como esta é uma raridade histórica e, por isso, reveste-se de uma importância capital e uma oportunidade de reabrir os caminhos difíceis da reconciliação rumo à paz. Nas palavras de acolhimento, o Presidente da República sul-sudanesa, Salva Kiir, agradeceu estas três prestigiadas visitas e considerou histórico o momento. Prometeu reativar o diálogo com os grupos de oposição e avaliou como muito positivo o impacto destas visitas sobre a consciência nacional e a paz.
Foram duras as palavras proferidas pelos três líderes cristãos. O Arcebispo da Cantuária foi claro: ‘Vimos ao vosso encontro desta maneira, outra vez: de joelhos, para lavar os pés, ouvir, servir e rezar convosco!’. O Pastor Greenshields apontou objetivos: ‘Precisamos de líderes que se preocupem com os valores pelos quais os nossos países vivem, que se preocupem com as condições em que as pessoas vivem e que ponham em prática a sua fé, no trabalho junto dos mais vulneráveis e marginalizados’. Na sua primeira intervenção, sentado ao lado do Presidente, o Papa não esteve com rodeios: ‘é a hora de dizer basta… sem «se» nem «mas»: basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violências e recíprocas acusações sobre quem as comete, basta de deixar à mingua de paz este povo dela sedento. Basta de destruição; é a hora de construir! Deixe-se para trás o tempo da guerra e surja um tempo de paz!’ Mais adiante, propôs: ‘é tempo de passar das palavras aos atos. É tempo de virar página; é o tempo do empenho em prol duma transformação urgente e necessária. O processo de paz e reconciliação exige um novo salto. Deem-se as mãos para levar a bom termo o Acordo de paz, bem como o seu Roteiro’.
Aos líderes católicos, apelando para a figura de Moisés, o Papa lembrou-lhes que não são chefes de tribos, mas ‘companheiros de viagem’, nas horas felizes ou trágicas.
Momento de lágrimas foi o encontro com deslocados do conflito, a representar ali os milhões que fugiram de suas casas e terras para escapar à morte. Os líderes religiosos escutaram as tragédias que os vitimam e dirigiram-lhes palavras de força, coragem e consolação.
O ponto alto da visita foi a Celebração Ecuménica com a presidência dos três líderes cristãos. 50 mil sudaneses cantaram e rezaram pela reconciliação e paz, valores muito ansiados e urgentes. Foi emocionante a comunhão visível nas palavras e presença de tão ilustres visitas.
A manhã do domingo seria marcada pela Missa, com milhares de pessoas a participar festivamente. Na sua última grande intervenção, o Papa repetiu o ‘não’ à guerra e à violência e voltou a apelar à esperança, insistindo na importância capital de retomar um diálogo que conduza à reconciliação, único caminho para uma paz justa e duradoura: ‘Nunca percais a esperança. E não se perca ocasião de construir a paz!’.