O Cristão vive de maneira vertical. Não como um zombie, mas com a energia própria de quem morreu para si, para viver em Cristo.
Uma das palavras mais importantes neste lema das JMJ 2023 é o verbo LEVANTAR-SE.
Trata-se de um verbo muito usado em todo o novo testamento. E é importante porque é o mesmo que é usado para falar do acontecimento central da nossa fé, a ressurreição de Jesus: Jesus levantou-se. Em muitos outros pontos do novo testamento encontramos a referência a este levantar-se tão especial:
- Por exemplo, Jesus faz com que as pessoas se levantem, quando lhes toca e cura. “Jovem, eu te ordeno, levanta-te” (Lc 7, 14);
- “a menina imediatamente se levantou e começou a caminhar” (Mc 5, 42);
- “Jesus ordenou… e o paralítico se levantou” (Lc 5, 24-25); etc.
- Igualmente o mesmo verbo aparece quando Jesus chama Mateus para o seguir, este “imediatamente se levanta” e segue o mestre (Mt 9, 9); etc.
Sobre este tema da JMJ o Papa Francisco diz: “Depois da Anunciação, Maria teria podido concentrar-se em si mesma, nas preocupações e temores derivados da sua nova condição; mas não! Entrega-se totalmente a Deus! Pensa, antes, em Isabel. Levanta-se e sai para a luz do sol, onde há vida e movimento”.
A propósito deste convite do Papa, de sair para a luz do Sol, vale a pena prestar atenção a um pequeno documentário publicitário produzido por uma conhecida marca de detergentes para roupa. Nesta peça é apresentada a vida na prisão de alta segurança em Wabash, Indiana, EUA. Os reclusos têm duas horas por dia, em que podem vir para o pátio exterior da cadeia para aí descontraírem, fazerem algum desporto, respirar ar puro, etc. Alguns deles foram entrevistados com a pergunta: “o que faria se lhe reduzissem esse tempo para apenas uma hora?”. Todos respondem que seria horrível. Tal cenário daria origem a um motim. O vídeo conclui revelando que existe mesmo quem passe apenas uma hora fora de portas por dia: as crianças!!! “As crianças, em média, passam hoje menos tempo fora de quatro paredes que um recluso”!

É famoso o convite que o Papa faz aos jovens, de trocarem o SOFÁ por um par de sapatos que os ponha a caminhar… Na JMJ da Polónia ele disse que há dependências piores que a droga e há uma situação que paralisa mais do que o medo. É o que chamou de “felicidade de sofá” e explicou: “Acontece quando confundimos a felicidade com um sofá. Um sofá que nos ajude a estar cómodos, tranquilos, bem seguros. Um sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir – que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos videojogos e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos, nem nos preocuparmos. Provavelmente, o sofá-felicidade é a paralisia silenciosa que mais nos pode arruinar.”

Podemos nos perguntar:
que coisas me impedem de ter tempo para Deus?
que coisas me fazem ter uma vida sedentária, refém do “sofá”, paralisado, inativo?
Este vídeo, cheio de humor e ironia, é uma paródia imaginando alguém nos anos 90 a profetizar sobre o que seria no futuro a internet, o telemóvel e as redes sociais. Eis o essencial da conversa:
“No futuro vamos perder horas e horas a ver vídeos de gatos e cães fofinhos. E partilharemos esses vídeos com os nossos amigos. E os nossos amigos responderão, não com palavras, mas com pequenos bonecos de carinhas redondas. Não poderemos ver nenhum desses vídeos sem primeiro ter de saltar uma publicidade… passaremos também grande parte do nosso tempo em sites a que chamaremos redes sociais… e teremos a possibilidade de aceder a tudo isto no nosso telefone. Assim, quando formos para a cama, levamos o telefone connosco. Quando formos à casa de banho levamos o telefone connosco. Quando sairmos do chuveiro pegamos no telefone para garantir que não perdemos nada… e já nem sequer teremos de nos limpar com a toalha!!! Apenas nos sentaremos na beira da cama, todos molhados, a pingar, rolando (scrolling) no visor do telefone, rolando, rolando… num rolar sem fim…”
Por vezes tornamo-nos de tal modo escravos das nossas falsas necessidades, que deixamos de ter tempo para o que realmente seria importante. E assim, quando de repente acordámos, percebemos que perdemos o melhor da vida! Quantas vezes na juventude deixamos de prestar atenção e de responder ao plano de vastos horizontes que Deus sonhou para nós? Deixamos de seguir um plano ou projeto maior, para apenas nos deixarmos levar por emoções e apetites que o momento determina! «O hábito do consumo superficial dos sentimentos torna-nos frágeis; conferir ao ocasional imediatismo das emoções um papel decisivo para a nossa identificação e conduta (“agora sinto-me assim, faço assim, decido assim”) expõe-nos ao grave risco de conferir à pressão das circunstâncias um poder absoluto sobre o nosso destino. Se não estamos vigilantes, serão os nossos reflexos condicionados, e não o nosso eu, a decidir por nós!» (C. M. Martini, Estou à Porta, Paulinas Lisboa – 1993, p. 24); podemos parecer livres, mas realmente já não o somos.