Pepetela é um escritor angolano que ganhou o Prémio Camões em 1997. Foi guerrilheiro, envolveu-se de alma e coração na política, foi vice-ministro da Educação com Agostinho Neto e Eduardo dos Santos. Abandonou o governo em 1982 para se dedicar à escrita. Tem 22 romances. Este último narra a história de um corrupto presidente de uma república que morreu e, dentro do seu caixão, consegue perceber os dizeres e pensamentos de quantos participam no velório. Assim, morto e deitado, conta toda a sua história, mostrando os caminhos tortuosos que levam alguém ao poder, os filhos de numerosas mulheres que um presidente autoritário vai gerando, as teias de um poder marcado pela corrupção, nepotismo, compadrio, incompetência dos ministros e outros altos funcionários do Estado todo-poderoso, controlo de vidas e consciências pelas polícias secretas e espionagem, eliminação da oposição, estrangulamento da liberdade dos cidadãos e da imprensa, instauração de um regime de terror, delapidação do património, despesismo, apropriação indevida dos bens do povo para proveito próprio, promoção de familiares e amigos, multiplicação de incompetências, vidas de fausto, apoio aos lambe-botas e ao grupo dos bate-palmas, insensibilidade à pobreza dos cidadãos…enfim, violações frontais dos direitos humanos…
Na contracapa está escrito: ‘uma crítica mordaz ao abuso de poder e aos sistemas de governo totalitários disfarçados de democracias, escrita com um sentido de humor inteligente, e em que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência’. Ora, concluo eu…talvez não seja bem assim, pois Pepetela sabe bem do que escreve!
As últimas páginas são muito divertidas e interessantes, mas nunca se deve contar o fim de um filme ou de um romance para não os matarmos à nascença. Leiam, meditem e ajudem o mundo a mudar.
Ed. D. Quixote – Leya