2º Domingo da Páscoa
A primitiva comunidade cristã de Jerusalém aparece-nos, no texto da primeira leitura, pintada em cores vivas, donde se destacam a solidariedade e a partilha que caracterizavam a “multidão dos que haviam abraçado a fé”, pois tinham “um só coração e uma só alma”, e a cada um era distribuído “conforme a sua necessidade”, de forma que “não havia entre eles qualquer necessitado”.
Esta maneira de ser, de estar e de se relacionar não é fruto de um decreto, também não foi imposta pela força, nem surge no contexto de uma situação generalizada de fome como a que veio a acontecer anos depois e referida por S. Paulo nos seus escritos (aos Gálatas e na 2ª Coríntios), mas é o resultado espontâneo e lógico de quem “nasceu de Deus e ama todos aqueles que Ele gerou” e se referia à Eucaristia como ‘fração do pão’, fonte e impulso de toda a solidariedade e de toda a partilha.
Este estilo novo de relações sociais contrasta profundamente com as relações interesseiras que vigoram nos dias de hoje, marcadas pelo medo, pela desconfiança, pela exploração, pelo calculismo e pela indiferença.
Estamos, por isso, perante um texto inspirador para a resposta que nós, cristãos, e as comunidades cristãs estamos desafiados a dar face às situações de pobreza, de fome e de miséria que a atual pandemia vem aumentando e agravando de forma acentuada. E não podemos refugiar-nos no coro dos que apenas criticam tudo e todos ou descarregam nos poderes instituídos toda a responsabilidade. Não é com crítica fácil ou com dedos inquisidores, mas sim com gestos e iniciativas concretas que esta crise precisa de ser enfrentada.
Com efeito, o “partir o pão” tornou-se não só o indicativo da Ressurreição e da Eucaristia, mas também o programa para todos os crentes. Foi isso que os primeiros cristãos compreenderam e puseram em prática. É para aqui que o Papa João Paulo II pretendeu encaminhar-nos ao propor este dia como o ‘Domingo da Misericórdia’!
Aliás, não pode haver outro caminho para quem saboreou a Misericórdia de Deus, de que a Ressurreição de Cristo é a melhor proclamação. Como diz S. Paulo, também nós conhecemos a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Ele, embora fosse rico, tornou-se pobre por nossa causa, para, com a sua pobreza, nos enriquecer a todos” (cf. 2Cor. 8,9).
Cabe a nós, hoje, sermos testemunhas credíveis da Ressurreição de Cristo e da Divina Misericórdia, partilhando com os nossos irmãos o que somos e temos. É esta coerência e este testemunho que o mundo de hoje mais precisa de “ver para crer”!