Em muitas circunstâncias da nossa vida temos necessidade de recomeçar. Saber recomeçar é uma tarefa e um desafio constante à nossa vida. Os anos passam e o tempo não perdoa. No meio de tudo isto, saber recomeçar cada ano, como algo novo é fundamental para não encalharmos na vida nem no tempo. É urgente termos esta capacidade de tornar todas as coisas como novas. Não perdermos a novidade das coisas. Não cairmos na monotonia, muito menos na rotina que nos consome e desgasta interiormente e que, muitas vezes, nos faz perder a qualidade humana e relacional. É urgente termos bem presente aquele convite de Jesus a Nicodemos. Tens de renascer. Não para o mundo físico mas para o nosso interior espiritual. Para o nosso íntimo que precisa constantemente de renovação e de frescura. Sinto que muita gente já perdeu esta frescura. Caíram na tentação de se tornarem máquinas ou apenas fazedores de coisas. Quando uma só coisa é precisa: renascer constantemente. Estabelecer recomeços que nos desafiem a novas atitudes e comportamentos.
É tudo isto que podemos desejar ao iniciar mais um ano. Uma nova oportunidade de vida. Uma nova postura. No global, a uma nova maneira de encarar a vida, o mundo e os outros. E porque não, uma nova oportunidade de recrearmos a nossa relação com Deus. Não termos medo de restabelecer novos contactos e novas posturas com Ele e com o próximo. Só assim conseguiremos renascer para uma vida nova.
Na linguagem de São Paulo, temos de abandonar o homem velho para nos revestirmos do homem novo. O que é este homem novo? Um homem regenerado, reestruturado, reorganizado e renovado a todos os níveis. Não podemos cair na monotonia da vida. É esse um dos grandes perigos hodiernos. Não podemos ceder á tentação do individualismo, do egocentrismo, do isolamento e da indiferença. Precisamos de novas parcerias com o Divino e com o Humano. E para que isso aconteça temos de nos revestir do homem novo que se renova e se recria na invenção de novas maneiras de estar no mundo, na sociedade e com os irmãos. Novas maneiras de amar. De proximidade. De compaixão e de misericórdia.
Se assim não for, nunca iniciaremos um ano novo com “novidade”. Só passa o tempo e nós passamos ao lado. Um cristão-novo deve aproveitar a passagem do tempo para se renovar- Mas para isso temos de deixar para trás muito lixo que acumulamos ao final dum ano: ciúmes, invejas, maledicência, fofoquice, a que o Papa Francisco chama de terrorismo, juízos temerários, falta de sigilo, crítica destrutiva, mentira e tantas outras coisas que temos de largar. Vinho novo em odres novos!
Tenhamos a coragem de, não só mudar os ponteiros do relógio, contando passas e festejando, mas saibamos, acima de tudo, mudar os ponteiros do nosso interior e da nossa maneira de tratarmos o nosso semelhante. Só assim será ano novo.
Feliz ano novo para todos vós.