A famosa expressão de Martin Luther Jnr de que, “a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar” é uma verdade eterna. Depois do nome ‘boko haram’ ter entrado aos poucos no registo do vocabulário e após a “institucionalização” dos ataques das seitas extremistas muçulmanas, surgiram outros grupos, outrora pacíficos, do mesmo cariz, mas, infelizmente, com maior alcance. Quem imaginaria que simples pastores, espalhados pela Nigéria, fossem capazes de começar a matar à vista homens, mulheres, crianças e agentes de autoridade?
De norte a sul, existem vilas e aldeias em fuga porque, em reação a uma lei contra a pastagem aberta, estes pastores expulsam e matam as populações para dar pastagem às ovelhas e vacas. O último massacre, que começou a 1 de janeiro no Estado de Benue, conta com um enorme número de vítimas mortais. O governador do Estado, Samuel Ortom, disse que se encontram desalojadas mais de cinquenta mil pessoas, após o massacre dos seus familiares. A 11 de Janeiro, em Makurdi (Nigéria) foram enterradas 73 pessoas na mesma cerimónia funerária.
Infelizmente, neste caso como em muitos outros, o governo atrasa-se em chegar aos corações feridos daqueles que se viram privados dos seus familiares ou ainda daqueles que perderam a vida. Em situações como essas, um sistema de gestão de emergência é extremamente ineficiente. É mais eficaz antecipar as ocorrências, preveni-las e implementar políticas duradouras que tenham efeitos impeditivos. O governo federal vem sempre atrasado, como se se tratasse de um padre que chega no final da missa, que é como que dizer que não houve missa.
Vive-se uma situação de caos e, por isso, pode-se afirmar que o estado de Nigéria faliu. É um estado falido aquele que manifesta repetidamente uma incapacidade ou pouca vontade em proteger os seus cidadãos. Fruto disso, há muitos refugiados internos na Nigéria.
A tribo Fulani é uma das tribos mais difundidas da África Ocidental e além, e o efeito desastroso de seu comércio – a criação de gado – se tornou uma crise regional. Os deslocados por pastores de origem Fulani estão gradualmente a tornar-se o maior grupo de pessoas apátridas do mundo na África Ocidental e além. Até se conseguir um estatuto para quem se encontra nessas situações ou em condições idênticas, é necessário assegurar mantimentos morais, espirituais, legais e materiais.
Será desta vez que o mundo vai reagir em prol dos direitos humanos, ou será que estes acontecimentos apenas servem a nossa curiosidade e fornecem assuntos de discussões inúteis e vazias?