Domingo de Páscoa
Seguramente, esta Páscoa de 2020 vai ser inesquecível para todos! De facto, ela vai ser vivida despida daquele ambiente socio-religioso tradicional, o que levará muitos de nós a desabafar: ‘nem parece Páscoa’, ‘nem sabe a Páscoa’. E é verdade que esse ambiente socio-religioso (ornamentações, cortejos pascais, o beijar a Cruz, etc…) lhe conferia uma marca bem característica. Mas, é preciso também reconhecê-lo, corríamos o risco de reduzir a ‘isso’ a nossa Páscoa, quando tudo ‘isso’ não passa de acessório e complementar.
Por isso, as estranhas circunstâncias que estamos vivendo como que nos empurram para o essencial da Páscoa: a ressurreição de Cristo, isto é, o triunfo definitivo da vida em glória sobre a morte. Ela é como que um vulcão que irrompe do coração da morte e tudo inunda de vida nova e de alegria; ela é aquela nascente que, jorrando do coração de Cristo traspassado pela lança, se transforma em torrente imparável que fecunda e dá vida a tudo por onde passa.
E todos precisamos desta torrente de vida nova capaz de derrubar os muros da divisão e da discórdia que fomos levantando, capaz de derreter o gelo da indiferença e distanciamento que foi endurecendo os nossos corações, capaz de transformar a simples vizinhança em proximidade solícita e generosa, capaz de inventar novos gestos de amor e de amizade, capaz de gerar iniciativas que deem cor e alegria à monotonia saturante destes dias de quarentena, capaz de encher de vida e de esperança os vazios deste dia-a-dia tão monótono e entediante, capaz de dar fogo e ardor apostólico à nossa fé, capaz de dar novo sabor às nossas orações e celebrações, numa palavra, capaz de ‘recriar a face da [nossa] terra’.
Para isso, precisamos de saber ler também nas atuais circunstâncias, os sinais de ressurreição que o Senhor vai semeando, para que a nossa fé se torne, de verdade, mais testemunhante e contagiante para este momento que nos parece mais de morte que de vida!
Boa e santa Páscoa para todos!