O P. José Maria de Sousa Lourenço Mendes, filho de António de Sousa Lourenço e de Januária da Silva Mendes Barbosa, nasceu em Santa Marinha de Figueira, concelho de Penafiel e diocese do Porto, no dia 2 de fevereiro de 1920.
Como aspirante à vida sacerdotal e missionária, na Congregação do Espírito Santo, por influência de um sacerdote diocesano, entrou no seminário de Godim, em outubro de 1932. Aluno inteligente, aplicado, de boa saúde, cumpridor, generoso, bom e serviçal, cedo mereceu a confiança dos seus Diretores e professores. Nas férias tinha tempo para ajudar o seu pároco na catequese, na ação social e, ainda, na formação missionária de um grupo paroquial. De 1932 a 1943 faz o seu percurso escolar e eclesiástico. Fez a sua Profissão Religiosa, no seminário do Fraião, em 1939. Com a ordenação sacerdotal, em Viana do Castelo, a 26 de dezembro de 1943 e a Consagração ao Apostolado em 1944, o P. José Maria de Sousa, passa a viver, a trabalhar, a dar-se e a testemunhar a Boa Nova do Evangelho, pelo ensino, pela iniciativa, criatividade e gestão, conciliando a contemplação com a ação, a fé com a ciência, o recolhimento com o lazer, a dinamização de grupos e consciências, convicto de que “uma cabeça só, não trabalha”.
De 1944 a 1964, ocupou diversos cargos, como professor, Mestre de Noviços dos Irmãos e Superior no Fraião e no Porto. Pelo seu porte de docente, inteligência e saber, era visto com admiração, respeito e simpatia, pelos alunos. A sua formação académica em Ciências e Humanística, deu-lhe possibilidade de abrir, aos confrades e aos alunos, novos horizontes, não só ao Programa Oficial mas também à adaptação a novos métodos de ensino. Percorreu um sem número de paróquias do Minho, para sermões, tríduos e confissões.
Missão em Cabo Verde
Nomeado para Cabo Verde, em 1964, como Superior Principal dos espiritanos aí permaneceu dez anos. Foi professor de Filosofia e Diretor de Liceu. Em colaboração com as Autoridades locais, equipou mais de uma centena de escolas (112) para crianças e adultos; procurou benfeitores para apoiar nos meios de transporte para as crianças da escola e para o apostolado dos missionários espiritanos; comprou uma propriedade para nova sede dos espiritanos, na cidade da Praia; fundou o Colégio de Santa Catarina, onde foi Diretor de 1970-1974.
Pela catequese, liturgia, movimentos paroquiais deu atenção às crianças, aos jovens e aos adultos, através de uma metodologia capaz de a todos integrar e formar. A alfabetização de adultos permitiu que muitos, na década de 1960, emigrassem para procurar melhores condições de vida. Promoveu a desinfestação e higiene com a famosa “missão das endemias”, evitando as doenças endémicas que, nos anos 60, século passado, dizimavam a população por ocasião de secas e inundações. Em dois Livros (1973-1974), a que deu o nome de” Hora di Bai”, gravou a música e a letra das “Mornas” e “Coladeiras” mais emblemáticas de Cabo Verde.
Missão na América
Em 1974, voando para os Estados Unidos da América, deixou o arquipélago de Cabo Verde para continuar a exercer o apostolado no meio dos imigrantes Caboverdianos, na diocese de Providence. Para melhor os servir, fundou a paróquia do Imaculado Coração de Maria de Pawtucket e em Central Falls, perto da igreja, adquiriu uma casa para residência dos espiritanos. Em 11 anos de permanência na paróquia (1974-1984), atende os seus paroquianos ao mesmo tempo procura formar-se: frequentou, na Universidade de Brown, a cadeira de Arte e Música e, na Universidade de Kingston, a cadeira de Sociologia e Psicologia. Antes de deixar os Estados Unidos foi agraciado com diversas distinções, por entidades religiosas e civis, pela ação desenvolvida em prol das minorias étnicas com quem trabalhou.
Missão em Angola
Da América, em 1985, com 66 anos de idade, partiu para Angola. Aqui trabalhou 15 anos (1985-2000), com os confrades espiritanos, lecionando História da Filosofia, Lógica e Metafísica no seminário do Bom Pastor, no Huambo e mais tarde em Benguela, Missão do Pópulo. Abriu escolas para o ensino de música e informática e tornando-se paladino da era digital. Em 1992, o P. José Maria teve a graça de encontrar e falar pessoalmente com o Santo Padre São João Paulo II que estava de visita a Angola. Em Benguela, em 1993, celebra as suas Bodas de Ouro Sacerdotais.
Missão em Portugal
Devido às suas muitas crises de malária e às operações cirúrgicas a que tinha sido submetido, em 1998, o Superior Provincial de Portugal convida-o a regressar pois precisava dele para a comunidade do Pinheiro Manso – Porto. Em 2000 concretizou-se este pedido. Já na comunidade espiritana e de Formação, do Pinheiro Manso, fez 4 viagens a Angola para apoiar o ensino de informática e ajudar no ministério da paróquia do Pópulo e no seminário do Bom Pastor. No Pinheiro Manso, ocupa o seu tempo na pastoral e junto dos estudantes candidatos ao sacerdócio na Congregação. Com a sua anuência e ajuda de um grupo de antigos alunos (MAAES), publicou os livros: Pensar, Falar, Amar, Alfena e Ántropos. Em 2019 escreveu a sua autobiografia, condensada em 40 páginas. Em 2020, celebrou, festivamente, os seus 100 anos de vida, na comunidade e com a presença de alguns dos seus antigos alunos. Escreveu:
“A vida missionária não conta só fadigas e doenças. O sacerdócio é uma riqueza tal que só quem o vive pode entender, por mais que se queira dar uma ideia aos estranhos, nunca é possível transmiti-la na sua essência. Para ser sacerdote fiel ao Senhor não é preciso ser herói, o que é preciso é manter sempre sem hesitar a sua determinação de pessoa consagrada, o que sempre procurei fazer, se tivesse de recomeçar exercê-lo-ia do mesmo modo “corde magno et animo volente” (com um grande coração e boa vontade). A Congregação não é mendicante, os nossos fundadores não tinham em vista enviar à África bocados de pão, sim mensageiros conhecedores do que tem valor perpétuo, anunciar aos escravos a riqueza que possuem sem o saber, a alma e o convite que o Deus do Céu lhes faz para viverem eternamente com Ele… Pessoalmente, escreve o P. José Maria, devo à Congregação a formação, disciplina, moral, relacionamentos, posição social e eclesial “venerunt mihi omnia bonna pariter cum illa”, dela me vieram todos os bens para mim e os que passaram através das minhas mãos para os outros”. (fim de citação)
Em novembro de 2020, pela idade e outras complicações de saúde, passa a viver mais tempo no seu quarto onde é cuidado e alimentado. Os nossos confrades e escolásticos tudo fazem para que nada lhe falte. A nível cerebral, continua lúcido e a dedilhar o teclado do seu computador.
No dia 1 de março de 2021 foi transferido da comunidade do Porto para a comunidade de Fraião, passando a ser utente do Lar Anima Una. Ao chegar, a equipe médica do Lar detetou nele um estado geral de saúde bastante frágil, com edema generalizado e uma anemia grave que o levou a internamento, no dia seguinte. Já no hospital de Braga, foi-lhe diagnosticada uma neoplasia no intestino grosso; a cirurgia correu bem e, 15 dias depois, voltou ao Lar, na comunidade do Fraião, dispensando analgésicos, por vontade própria e com os seus 101 anos de idade!
O P. José Maria faria 102 anos no próximo dia 2 de fevereiro. Mas na manhã do primeiro dia do ano 2022 quis o Senhor da vida e da morte chamar a si o seu fiel servidor.
Agradecemos ao Senhor a longa vida do P. José Maria de Sousa e por lhe ter dado a graça de manter uma atitude positiva e pró-ativa no serviço à Congregação e à Igreja. Que o seu exemplo seja para nós um testemunho e que desde o Céu o P. José Maria interceda junto do Senhor da Messe pela nossa Congregação.
Ó Maria, Rainha das Missões,
Dai-nos muitos e santos missionários.
O Pé. José Maria de Sousa … Foi um homem de Deus … Marcado com sabedoria Divina… Nós podemos ver e sentir no Seminário Maior de Filosofia do Bom Pastor em Benguela/ Angola… Paz á Sua Alma… Descanse em Paz 🙏👏👏👏