Numa vida que se quer de êxitos e sucessos desmedidos, os fracassos não têm lugar. Da mesma forma, não há espaço para sofrimentos ou perdas de tempo. A vida escapa-nos entre os dedos e, se perdermos ‘o comboio’, que tem como maquinista a sociedade que nos rodeia, somos bem capazes de ficar à margem.
A dor que, a espaços, decide morar no mais dentro da nossa alma que a imaginação consegue supor não é bonita e, muitas vezes, não diz nada aos outros. É tao somente nossa que sentimos muitas vezes o cair no ridículo que seria partilhá-la à vista dos outros. Talvez ficássemos desnudos perante este cenário. Quantas vezes nos sentimos assim?
É por tudo isto que acredito que os jovens não choram. Não o fazem com medo do que os outros podem supor. Não o mostram a quem os rodeia. Não contam aos pais, não alertam os amigos. Permanecem em silêncio e, aquilo que começa com um sentimento de desconforto, cresce e dá lugar a palavras compostas, repetidas entre os corredores médicos, deixando-os muitas vezes em situações-limite nas quais nem sempre a vida é vista como um dom de amor total. Como se os seus problemas fossem o fim da linha.
O deserto que cada um vive pode nada acrescentar a quem assiste nas redes sociais, mas as palavras que entregamos aos outros podem mudar-lhes a vida sem sabermos. Com o aproximar da Quaresma procura estar atento a quem te rodeia. À família com quem vives, àquele colega de escola ou do trabalho que costuma estar mais calado. Interessa-te por aquilo que os outros te contam como se naquele momento mais nada acontecesse. Talvez nessa altura possas experimentar, ainda que de forma distante, o Amor que Deus te dá a cada dia. Quando escuta os teus pedidos, as tuas angústias, aquilo que Lhe entregas e, sobretudo, aquilo que és, a tua essência, o desenho irrepetível da tua alma.
Chorar não é ridículo, não é um problema nem faz de nós pequenos, mas humanos. Quando tornas a sorrir percebes que as dificuldades nem sempre são o trampolim que imaginávamos para continuar a nossa jornada, mas às vezes não é possível fechar os olhos ou passar ao lado.
Precisamos “do nosso tempo”, que nem sempre é semelhante ao “tic tac” urgente e surdo dos que nos rodeiam, mas é aquele que nos permite reerguer e fazer frente à vida, travando o nosso “bom combate”.