Com este artigo termino a minha rúbrica mensal “Animação Missionária” no nosso querido jornal Ação Missionária, onde estive presente nestes últimos cinco anos, procurando dar um cunho missionário aos nossos leitores, reflectindo sobre temas muito pertinentes para a nossa condição e vocação missionária de cada baptizado. Tentei ser o máximo simples e prático para que fosse compreensível a todo o tipo de leitor. Procurei ser objectivo e não andar com palavrinhas mansas ou então ficar-me, apenas e só, no religiosamente correcto, dando a ideia de querer apenas e só dizer aquilo que as pessoas gostam ou esperam ouvir. Sei que, fui, muitas vezes, desconcertante e incomodativo. E ainda bem. Não me consigo imaginar a escrever coisas apenas e só para ficar bem na fotografia ou dar uma de boa imagem. Nunca foi o meu feitio, não iria ser agora.
Como não trazer aqui as palavras de Jesus Cristo quando nos adverte sobre o nosso tipo de linguagem. “Seja, porém, a tua linguagem: sim, sim, não, não; pois o que passa daí vem do maligno” (Mt, 5, 37). Julgo que não precisa de grandes explicações. Apenas e só, sublinhar a importância, mais do que nunca, sermos audazes e ousados na maneira como abordamos as questões da nossa igreja, concretamente o que, ao longo, destes anos, fomos abordando as questões de animação missionária para sermos verdadeiros discípulos missionários de corpo inteiro e não de, apenas e só, de cuidados mínimos, ou seja, contentarmo-nos com pouco e investir quase nada na renovação e na criatividade missionárias.
Não resisto a transcrever as palavras do nosso Papa Francisco: “Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre”.
E mais acrescenta: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo actual que à auto-preservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de «saída» e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade.”.
Uma coisa é certa, estamos muito longe da concretização deste sonho missionário do Papa Francisco. E porquê? Porque somos comodistas de mais. Somos medíocres na nossa maneira de evangelizar. Ficamos muito pelos cuidados paliativos. Contentamo-nos com pouco. Somos demasiado efervescentes, mas que depois tudo passa. Como alguém me dizia, a ação missionária não se compadece com chouriços atados e com serviços apenas e só para manter o estado de coisas. Ou há renovação ou então, não há entusiasmo missionário! Há missionários e missionárias que já deixaram que lhes roubassem tudo. Andam completamente nús! A fé, o entusiasmo, a ousadia, a criatividade, a persistência, a resiliência, o dinamismo, a coragem, a confiança e tantas outras coisas.
E quando assim é, não conseguimos convencer nem animar ninguém.
Obrigado a todos e a todas que, comigo, lutaram durante estes seis anos de animação missionária por uma postura de renovação e de ousadia, sem calculismos e sem preocupações de salvaguarda da imagem pessoal.
Afinal, o que conta, não é apenas o que fizemos, mas o que fomos e vivemos em conjunto.