2º Domingo do Tempo Comum
É estranho que determinados textos da Bíblia como que tenham passado ao lado da vida e da espiritualidade dos cristãos ao longo de tantos séculos. A explicação passará também pelo facto de a Bíblia não ter estado ao alcance dos cristãos e os fiéis ocuparem a primeira parte da Missa na recitação do Terço, enquanto as leituras, em latim, ficavam para o celebrante e o ajudante…
De facto, é quase impossível evitar um arrepio de comoção ao escutarmos afirmações como as deste domingo: “hão de chamar-te ‘predileta’, “tu serás a alegria do teu Deus”! E não se trata de mera poesia, de propaganda eleitoral ou de simples canção de amor: a Incarnação de Cristo é o cumprimento de todas estas promessas.
Por isso, o Evangelho de hoje nos apresenta Cristo não apenas a tomar parte numa festa de casamento, mas a resolver – e de forma generosa e abundante, na quantidade e na qualidade – a complicada situação provocada pela falta de vinho.
E a prova de que a intenção de Jesus era muito mais profunda e de um alcance muito mais vasto que a simples resolução deste problema está na afirmação do evangelista: “Jesus manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele”. Com efeito, Jesus apresenta-se como o Deus desposado com a Humanidade, tudo fazendo para que ela possa ter vida em abundância.
Por isso, o nosso Deus, não é simplesmente o Deus todo-poderoso, severo e ameaçador, tantas vezes assim apresentado, mas o melhor dos pais e dos maridos, que, na Encarnação do seu Filho, inaugurou este novo tipo de relação com os Homens, esperando que cada um de nós se renda ao encanto da sua ternura e do seu amor, para nos tornarmos sua esposa agradecida e fiel.
Por sua vez, S. Paulo faz a aplicação desta lógica aos dons e capacidades com que cada um de nós foi dotado por Deus: devem ser postos a render ao serviço da comunidade e de todos, num espírito de colaboração e de complementaridade, sem ciúmes, invejas ou concorrências, para transformarmos a inevitável interdependência em ocasião de comunhão, de solidariedade e de partilha.
O Cristianismo é pela festa, pela vida e pela alegria verdadeiras – aquelas que só o amor de Deus acolhido e correspondido pode gerar! Perante esta riqueza perguntemo-nos: porquê passar a vida a dessedentar-se bebericando, quando está diante de nós o mar imenso, de água límpida e fresca? Porquê resignar-se a depenicar toda a vida, se diante de nós está servido lauto banquete? Porquê passar a vida a rastejar, se podemos voar como águias, no infinito do azul celeste?
Esta é a ‘rampa de lançamento’ de toda a forma de missão.