5º Domingo da Quaresma
São bem ousadas as imagens e comparações pelas quais a Palavra do Senhor deste domingo nos fala do quanto o Senhor quer fazer por cada um e cada uma de nós, filhos seus: elas roçam mesmo as fronteiras do inverosímil e do impossível.
Vejamos:
– no texto de Ezequiel, o fim do exílio e o consequente regresso à sua pátria são anunciados como uma espécie de ressurreição: “vou abrir os vossos túmulos e vos farei ressuscitar”. E, para que esta situação de degredo não volte a repetir-se, o Senhor promete ainda infundir neles o seu Espírito, para que “revivam”;
– em S. Paulo, é a inevitabilidade da morte que é desafiada: o Espírito “d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos… também dará vida aos vossos corpos mortais”;
– a impropriamente denominada ‘ressurreição’ de Lázaro, que o evangelho nos narra, é tão surpreendente e improvável que Marta se vê forçada a recordar a Jesus que ele “já cheira mal, pois morreu há quatro dias”.
Como a Marta, também Jesus lança a cada um de nós nas atuais circunstâncias o mesmo desafio: “se acreditares, verás a glória de Deus”! De facto, não é Deus que é fraco ou perdeu a força de fazer milagres: é a estreiteza da nossa fé que não Lhe dá espaço nem vez para Ele poder agir!
E, para isso, em vez de sermos nós a impor a Deus a hora e a maneira como Ele deve agir, confiemo-nos totalmente a Ele, deixando-Lhe toda a liberdade de ação e veremos como as suas maravilhas acontecem!
É aqui que reside o grande desafio da Fé: conceder a Deus toda a liberdade de ação e todo o espaço de manobra. Então compreenderemos que dos ‘atrasos’ de Deus em responder às nossas urgências ou da sua ‘surdez’ em escutar os nossos apelos – volta a falar-se hoje no ‘silêncio de Deus’ – resultará um bem maior para nós: Ele poderá manifestar em nós a sua glória!
Se, da morte de Lázaro, Cristo foi capaz de tirar vida, quanto mais não poderá Ele fazer das nossas ‘mortes’ deste dia a dia, se, pela Fé, Lhe abrirmos de par em par as portas do nosso coração!