Não sei se acontece convosco, mas comigo sucede muitas vezes estar fisicamente num lugar e ainda ali não ter chegado! Muitas vezes o corpo já lá se encontra mas o espírito e a mente ainda precisam de um pouco mais de tempo e foco para habitar esse mesmo sítio.
A este propósito, foi-me ensinada há dias uma bonita expressão guineense que diz isso mesmo, “n’cunsa tchiga”, comecei a chegar… Tenho particular gosto pelo que nos ensinam as outras culturas e, sobretudo, quando nos ajudam a perceber realidades que de tão próximas quase nos passam despercebidas.
Poderíamos usar esta bonita expressão para falar do tempo litúrgico que vivemos, a Quaresma. Todos os anos, quarenta dias antes da festa da Páscoa iniciamos este caminho, que se deseja, interior. Talvez pela cadência do tempo litúrgico, e pela normalidade que as palavras foram assumindo aos nossos ouvidos, a vivência destes dias não assuma a importância devida e não nos apercebamos do exercício pedagógico que fazemos em Igreja para de forma integral chegarmos à Páscoa.
Neste longo processo somos convidados a voltarmo-nos para o coração, o lugar primordial onde começam as grandes renovações na nossa vida. Primeiramente para o nosso, colocando-o em sintonia com Deus através da oração e para o dos nossos irmãos através do exercício da caridade. Finalmente o exercício do jejum que mais do que restrição nos impele à liberdade de renunciar a tantas coisas que nos enchem, mas estão longe de nos preencher.
“N’cunsa tchiga”… Será que este caminho nos ajudará a re-suscitar em nós mesmos a alegria, a esperança e o amor que são marca do Ressuscitado? Poderemos transparecer no nosso modo de ser e de viver a força desta boa notícia com que nos sentimos contagiados?
“A experiência pascal é coisa de discípulos. Não é uma experiência que esteja ao alcance de “curiosos” ou criaturas mais preocupadas com as piedades da sua religião do que com o seguimento de Jesus e a adesão ao testemunho do Reino. É como discípulo de Jesus que se faz a experiência pascal. E esta é um caminho, não um momento. É um acontecimento relacional, ou seja, uma História. (…) A experiência pascal exige sempre a caminhada dos “três dias”, como os primeiros…”
Comecemos a chegar!