Quando em 1914 eclodiu a primeira guerra mundial, Daniel Brottier estava livre de qualquer obrigação militar. Com 38 anos de idade, sem poder voltar a África, propôs ao Superior Geral, M. Le Roy, a ideia que lhe ocorrera ele e ao P. Trilles, que vivia no quarto contíguo ao seu, na Casa Mãe dos missionários do Espírito Santo, em Paris: tratava-se de formar um corpo de capelães militares voluntários que acompanhassem os soldados na frente do campo de batalha. E a ideia, que agradou a M. Le Roy, fez caminho, até ser aprovada pelas altas esferas governamentais. E ele que parte da capital para quatro anos infernais de guerra, dos quais ele próprio diria mais tarde: «Se fiz algum bem na vida, foi nos campos de batalha».
Porque se meteu, perguntará o amigo leitor, Daniel Brottier no turbilhão da guerra, quando estava isento de todo o dever militar? O seu patriotismo é inegável. Aliás, ele não o esconde nem disfarça. Faz mesmo questão de trazer, nos dias solenes, as medalhas que atestam a sua dedicação e heroicidade, que lhe granjearam a fama de capelão legendário: Legião de Honra e Cruz de Guerra. Todavia, a razão mais profunda da sua decisão é de outro nível. O que o move é sobretudo o desejo de sacrificar a vida por amor de Cristo e dos desfavorecidos. E, em última análise, é o desejo de morrer mártir ao serviço da caridade, esse mesmo desejo que o levara a abraçar a vida missionária e a partir para África.
A 28 de Agosto, Daniel Brottier sobe, na estação de Lião, para o comboio apinhado de soldados. Com eles permanecerá durante quatro anos na frente de combate. Correndo por entre a saraivada de balas e obuses, de um lado para o outro, acudindo a quantos precisavam dos seus cuidados, ele era como um estandarte no meio do campo de batalha, que convidava à coragem e inspirava esperança. Da sua abnegada e ousada dedicação, temos numerosos testemunhos. Baste com citar aqui estas palavras assinadas pelo general Joffre:
«Desde o início da campanha não cessou de prodigalizar os seus cuidados aos feridos, com uma coragem e abnegação acima de todo o elogio. Durante os combates de Março de 1916, permaneceu na primeira linha com as tropas em combate, recolhendo feridos, cuidando deles e encorajando-os. Deu o maior conforto moral, com a sua bela atitude, o seu sangue frio e a sua admirável dedicação».