Li integralmente e gostei muito. Faço de início a minha declaração de interesses, pois a longa e enorme amizade com o P. João Aguiar não me permite neutralidade nas avaliações que faço do que ele escreve. Mas vamos ao romance. Podia ter começado assim: ‘era uma vez, duas pessoas que gostavam muito uma da outra, o Júnior e a Joana’. O Júnior era um poeta, filósofo, alguém para quem a vida tem de ser reflectida. E vá de escrever um longo texto que colocou numa pen-drive vermelha, portadora de uma condição: a pen era para entregar à Joana, mas só no dia seguinte à sua morte poderia ser aberta. Daí o título da longa mensagem: ‘Morri ontem!’.
É um excelente tratado de humanidade, narrado com criatividade (e muito humor, pouco comum em temas desta densidade), com citações de grandes autores, personagens bem escolhidas porque emblemáticas (a começar pela Dª Rita (quero ir lá tomar um café e ouvir umas tantas…). Para aguçar o apetite da leitura, seguem algumas citações: ‘Qualquer doença gosta de cam. Tem, por isso, de ser contrariada!’ (p.27); ‘Estive mais de cinco minutos no elevador, antes de perceber que ele subiria apenas quando lhe indicasse o meu andar’ (p.42); ‘Escutar não é uma arte fácil’ (p.45); ‘Sou uma turina a quem todos tiram o leite, mas ninguém dá palha!’ (p.58); ‘Acho que uma mitra lhe caia mal e nós precisamos dele mais solto’ (p.62); ‘Três anos é demasiado tempo numa vida’ (p.71); ‘A amizade é mesmo uma escola de estratégias’ (p.101).
A não perder, a não deixar de se incomodar e interpelar.
Editora Diário do Minho – Braga