Foto: Encontro com leigos que querem partilhar a Espiritualidade e Missão dos Espiritanos, na Bolívia
A Bolívia Espiritana é fruto do jubileu dos 300 anos da Congregação. Em 2003, a União das Circunscrições da América Latina (UCAL) decidiu avançar para Santa Cruz de la Sierra, ali fundando a primeira comunidade Espiritana neste país pobre da América Latina sem mar. Tudo começou nas periferias da cidade, na Paróquia de San Juan Bautista, onde se encontra a grande prisão de Palmasola, visitada pelo Papa Francisco. Em 2012, a Paróquia desmembrou-se e nasceu a de Maria de Nazareth. Os Espiritanos acabariam por aceitar, em 2014, o desafio de Buenavista, uma antiga Missão dos jesuítas que tem cerca de 40 comunidades. Ali trabalham o P. Márcio Asseiro e o Diácono André Azevedo.
Feliz comunhão entre Religiosos/as
Cheguei a Santa Cruz, com o diácono André Azevedo, esgotados pelas muitas horas de voo. Esperavam-me os Espiritanos e fomos levados ao Centro de Retiros dos Missioneros de la Sagrada Familia, onde estavam outros Religiosos e Religiosas. À sombra de um enorme abacateiro, tivemos uma refeição nutritiva, em todas as frentes: alegria, diálogo sobre o recente Congresso Missionário Nacional realizado em Sucre (a capital do país), alinhamentos de eventos próximos a nível missionário… O calor era muito forte, mas a sombra da árvore e a fraternidade partilhada tornaram a tarde feliz.
Comunhão com a Igreja Local
Fui ao Paraguai participar na celebração dos 50 anos da chegada dos Espiritanos ao país guarani. No regresso, levaram-me ao fim da reunião do Conselho Presbiteral de Santa Cruz de la Sierra, com o Arcebispo, os três Bispos Auxiliares e os Padres representantes das Vigararias e Serviços Diocesanos. Foi um momento de grande riqueza. Dias mais tarde, tive a alegria de participar no encontro mensal dos padres que inclui sempre um jogo de futebol (um dos Bispo Auxiliares merecia jogar na I Liga!) e um almoço fraterno em que se dão muitas informações sobre a Diocese e os seus eventos.
Pelas periferias de Santa Cruz
O P. Flávio Furtado, de Cabo Verde, é o pároco de Maria de Nazareth, uma das periferias mais pobres de Santa Cruz. Com ele visitei algumas das comunidades da Paróquia, todas marcadas pela pobreza de estruturas a condizer com o dia a dia do povo simples que as habita.
Passei na grande prisão de Santa Cruz, em Palmasola, visitada pelo Papa Francisco. Começamos por visitar a instituição ‘Nuevo Amanecer’ que acompanha quase 90 crianças portadoras de diversas deficiências. Um trabalho invulgar. Depois fomos até à Plataforma Solidária, coordenada por leigos espanhóis, que tem uma creche, alguns projetos com crianças desfavorecidas e muito trabalho de promoção feminina. Passamos pela família do Alex, um deficiente profundo, adulto, apoiado por seus pais, pessoas idosas e doentes. Percebi que o P. Flávio os apoia e passa muitas vezes a visitá-los. Finalmente, fomos até à Comunidade de Santa Rosa de Lima, uma capela muito pobre que só tem um tecto de zinco. Parámos na casa do líder da comunidade para dois dedos de conversa e tomar uma bebida fresca. A hospitalidade, neste contexto de muita pobreza, é um ex-libris desta terra e destas gentes.
O Hospital Francês acolheu-nos à tarde. Conversamos com os doentes nas enfermarias e celebramos Missa num dos corredores.
A noite foi de encontro no salão da Paróquia. Pude partilhar com um auditório vasto e atento algumas questões que marcam a actualidade da Igreja e da Missão.
Samaipata, património da humanidade
O encontro com a cultura ajuda a perceber a alma de um povo. Não é possível compreender a Bolívia sem aprofundar as suas raízes incas. Por isso, os Espiritanos de Santa Cruz levaram-me em ‘peregrinação cultural’ até ao Parque Arqueológico onde pontifica o Forte de Samaipata, a dois mil metros de altitude, onde se pode fazer um percurso cultural a pé para conhecer a grande cidade Inca, hoje Património da Humanidade. É um ponto de separação entre as duas diferentes bolívias: a dos incas e a amazónica. Samaipata foi tomada e destruída pelos espanhóis. São horas de caminho acidentado e difícil, sob calor abrasador que são justificadas pela beleza da paisagem e o impacto da história que o guia local vai explicando à medida que se caminha.
Buenavista, fundação jesuíta
Cheguei noite dentro, em dia de tempestade tropical, com trovoada forte e chuvas intensas. Acordei às 4h com a papagaiada a cantar forte nas árvores da Missão. O dia começou com a festa de S. Rafael numa das comunidades da floresta, com baptismos, procissão e foguetes com fartura! No fim, lá bebi a chicha (bebida tradicional de milho) e comi um pão de arroz tradicional.
O fim de semana foi repleto de Missas na Igreja matriz e em algumas das 40 comunidades que fazem parte do território desta Missão, animada pelo P. Márcio Asseiro. Animar este povo tão disperso e reconstruir algumas das estruturas é o tabalho que se impõe com mais urgência pastoral. Pude perceber quanto o P. Márcio é querido e respeitado, tal o número de convites que recebe para almoços e jantares. Acompanhei-o nas visitas a algumas das famílias, o que permitiu conhecê-las e entrar em alguns ‘desafios gastronómicos’, como o de começar um dia de domingo a comer ‘massaco de banana’! Percebi que a Missão também se faz muito na cumplicidade com um povo simples e acolhedor.
Em cima da mesa, como missão a cumprir em breve está a reconstrução da área da Igreja e espaços paroquiais, incluindo a residência dos missionários, com o apoio da LIAM.
San Juan Bautista
Foi porta de entrada dos Espiritanos na Bolívia. A Comunidade tem agora quatro membros: o P. Leonardo, Superior (de saída, pois foi eleito Provincial do Brasil), o P. Flávio (Cabo Verde), o P. Andrew (Gana) e a Maria de Jesus (Leiga Associada). Todos trabalham nas Paróquias e na promoção social. O P. Leonardo acumula a paroquialidade de San Juan com a coordenação nacional da pastoral carcerária. Há na Paróquia um embrião de grupo de Jovens Sem Fronteiras. A Maria coordena o projeto do Centro Pastoral onde faz formação humana e capacitação feminina, bem como atendimento homeopático.
Tive a oportunidade de concelebrar em San Juan Bautista, de participar numa formação missionária com os paroquianos e, na Comunidade Espiritana, de encontrar, numa noite de partilha e confraternização, alguns dos leigos que querem partilhar a Espiritualidade e a Missão dos Espiritanos.
Da Virgen de Cotoca ao Congresso Missionário
Na hora do ‘até breve, Bolívia’, decidi aceitar o desafio de partilhar uma manhã de Espiritualidade com os Espiritanos em Santa Cruz. De tarde, peregrinamos até ao Santuário da Virgen de Cotoca, um dos pulmões católicos da Bolívia, a poucos quilómetros da cidade.
A Bolívia realizou em Sucre o seu Congresso Missionário Nacional e vai acolher, em Julho de 2018, o Congresso Americano Missionário, evento que mobiliza todas as forças da Igreja do país. Já está a ser trabalhado o ‘Documento de Trabalho’ que resultou de um longo caminho já feito e apresenta algumas propostas corajosas. O tema do Congresso é: ‘América em Missão. O Evangelho é Alegria’. A Igreja arregaçou as mangas e está a caminho!