Frio, muito frio. Mas Missão, muita Missão foi o que vi e vivi por terras escocesas. Os Missionários Xaverianos acolheram os Espiritanos, em Coatbridge, para a reunião anual dos Coordenadores Europeus de Justiça, Paz e Integridade da Criação. Foi um encontro com muita partilha do que de bom se vai fazendo por essa Europa fora nestes âmbitos tão vitais para o mundo de hoje. Foi bom, em dias em que os media só falavam dos avanços e recuos da telenovela do Brexit, escutar os Relatórios.
A questão dos imigrantes continua central numa Europa que abre e fecha portas a quantos chegam por terra, ar e água, fazendo do Mediterrâneo um cemitério a céu aberto. A Irlanda tem uma instituição, a SPIRASI que acolhe e apoia imigrantes e refugiados; a Grã-Bretanha tem a REVIVE e Portugal o CEPAC com a mesma Missão.
Este Encontro Europeu dos Missionários Espiritanos fez uma aposta forte também na formação. Contou com dois especialistas naquilo que se chama a advocacy, ou seja, a arte de intervir junto de quem toma decisões políticas importantes para evitar que sejam tomadas más decisões que penalizem os mais pobres, atacando o mal na sua raiz. E, sobretudo, há que garantir o respeito pela dignidade das pessoas e seus direitos. O grupo contou com as intervenções de Andrzej Owca (que trabalha na VIVAT Internacional, junto das Nações Unidas em Genebra) e com Chika Onjejiuwa (que trabalha na Rede Fé e Justiça ‘Africa-Europa’, junto da União Europeia, em Bruxelas). Ambos Espiritanos, trabalham nestas Organizações Internacionais fundadas por Institutos Religiosos. Nestas questões delicadas dos direitos humanos, é preciso saber sempre quem é titular de direitos, quem é titular de obrigações e quem é defensor dos direitos. A Igreja, as Congregações…têm que fazer parte do sempre pequeno grupo que defende os direitos dos mais frágeis.
O Encontro aconteceu por ocasião do Dia Mundial das Missões e houve uma participação massiva na Celebração Nacional Missionária presidida pelo Arcebispo de Motherwell e Edimburgo na Catedral. A homilia seria feita pelo P. Eamonn Mulcahi, Espiritano de Manchester. Falou da urgência da Igreja ir até às periferias e margens para anunciar o Evangelho da Justiça e da Paz. Partilhou a sua experiência missionária ao dizer que trabalhou no Congo, na Nigéria e no Quénia, mas fez a maior experiência de periferia quando chegou a Manchester e viu os jovens toxicodependentes e desempregados na sua Paróquia de Ancoats. Falou de uma Igreja com pontes e sem muros e pediu aos pastores que tivessem o cheiro das suas ovelhas, como insiste o Papa Francisco.
Houve ainda tempo para o grupo visitar o Museu das Minas de Carvão de Summerlee. A descida às minas ajuda a perceber a dureza da vida de famílias inteiras, incluindo crianças, que nunca viam a luz do dia. Desciam à mina antes do sol nascer e de lá saíam após o sol posto. Mal pagos, sem alojamento nem alimentação adequados, a média de idade de vida era muito baixa e as doenças muitas. As minas seriam fechadas após grandes lutas sindicais.
No caminho de regresso a Edimburgo, pude ficar dois dias em Carfin, a Comunidade Espiritana que situada mesmo em frente do maior santuário nacional. Este é um espaço de peregrinações com réplicas de Lourdes, Fátima e Czestochowa em que os padroeiros são S. Francisco Xavier e S. Teresinha do Menino Jesus, mas onde muitos outros santos e santas têm estátuas e evocações.
A Justiça, a Paz e a Ecologia Integral têm cada vez mais espaço na Missão Espiritana porque são valores essenciais gravados nas páginas dos Evangelhos.
Ana Mansoa, Diretora executiva do Centro Padre Alves Correia, ao serviço dos imigrantes, participou no Encontro Espiritano de Justiça e Paz e Integridade da Criação, como delegada da Província Portuguesa