Vê, ofereço-te hoje, de um lado, a vida e o bem; do outro, a morte e o mal.
Recomendo-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes nos seus caminhos, que guardes os seus preceitos, Suas leis e Seus decretos.Deuteronómio 30, 15
Jesus tocou as vidas com delicadeza. E, ao fazê-lo, transformou-as. Disse, por vezes, palavras estranhas, mas que faziam eco em quem as ouvia, ressoando até ao mais fundo dos seus seres com uma voz diferente, inexplicável mas definitivamente marcante. Sem dúvida Jesus foi radicalmente diferente. Foi, e é, um sopro de brisa fresca no deserto que por vezes se transforma a nossa vida, uma torrente de água fresca que molha a nossa terra ressequida, um canto melodioso que nos retira do meio dos ruídos em que vivemos. De uma maneira ou de outra a presença de Jesus, como outrora, é transformadora de vida. Quem por Ele é tocado, embora pecador, caindo e levantando-se, nunca mais será o mesmo… a sua vida começa sempre a cada dia.
Viver tocado por Jesus, tendo consciência de que Ele, realmente, ressuscitou dos mortos e que continua vivo em mim e em tudo que me rodeia, proclamá-lo, nunca pode estar dissociado do meu próprio compromisso para com este facto. Dizer que «creio em Jesus Cristo… que ressuscitou de entre os mortos» é o mesmo que dizer que estou preparada para aceitar a transformação que esse facto deve produzir em mim. Uma vez que a vida de Cristo ressuscita para mim, eu também tenho de ressuscitar para uma nova vida. A ressurreição de Jesus, tem de ter um significado muito maior para a vida do que para a morte.
Por certo, todos temos, consciente ou inconscientemente, um projecto para a nossa vida, aspirações, objectivos pelos quais lutamos e que se transformam no centro e motor da nossa existência humana. Para satisfazê-los e conseguir alcançá-los encontramo-nos, não raras vezes, a «tirar água», qual samaritana, de onde pensámos encontrá-la. Quantas vezes caminhados de costas voltadas, sem nos questionarmos se o nosso projecto, o nosso objectivo real, é válido e se é capaz de satisfazer o projecto global que Deus tem para a humanidade. Ao contrário de Jesus, seguimos a torrente, que nos leva à conformidade com o mundo, esquecendo a opção pela radicalidade de Jesus. Um Jesus firme mas terno, cheio de autoridade mas humilde, que rejeita os estereótipos e as correntes que limitam os seres humanos, que luta por cumprir a sua missão, nem que para isso tenha de morrer… facilmente nos transformamos no jovem rico e mantemos o coração cheio, sobretudo do nosso eu, que por vezes constitui a nossa maior riqueza, rompendo ou debilitando a nossa relação com Deus. Pelo princípio da nossa liberdade, que Deus quis estabelecer, o Espírito não pode fazer nada quando não encontra um coração pobre que se abra à sua misericórdia. Aquele jovem rico, que São Marcos, descreve no seu evangelho, que «Jesus olhou e amou», pertence ao tipo de pessoas que não conseguem romper com a sua riqueza. Não arriscam nada pelo projecto de salvação que Deus quer fazer chegar a cada ser humano. Não arriscam em nada a sua vida. Cumprem os mandamentos, mas falta-lhes o amor que lhes dá a capacidade da entrega. Querem viver em Deus, desde que Ele não lhes complique a sua forma de vida.
Por vezes prendo assim as mãos a Jesus. Quero fazer o bem, mas não ser santa. Quero cumprir, mas não seguir Jesus. Falta-me, por vezes, tanto a generosidade como a esperança; tento a esperança como o amor. Não sou má, mas também não quero ser demasiado boa. Penso que já faço o suficiente.
Acreditar que Jesus Ressuscitou é continuar a deixar-me transformar pelo Ressuscitado. Deixar que Jesus seja o centro e a paixão da minha vida. Deixar que o Seu seguimento complique a minha vida, lhe dê gosto e sentido. Seguiu-lo de perto, bem perto, numa entrega total, absoluta e confiada.
Fátima Monteiro