24º Domingo do Tempo Comum
Não é só o evangelho deste Domingo que nos fala do amor misericordioso de Deus para com todos e cada um de nós. As leituras deste Domingo constituem, de facto, um hino maravilhoso à misericórdia do nosso Deus, que, desde a longínqua revelação a Moisés, se autodefiniu como um “Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade” (cf. Ex 34,6).
Embora comumente conhecida como ‘parábola do filho pródigo’, a verdade é que Jesus, ao contá-la, quer realçar a bondade, a paciência e a misericórdia deste pai, que espelha bem o Deus e Pai Misericordioso, de que Jesus é o rosto visível – “quem me vê, vê o Pai”, – atitude que os escribas e fariseus censuravam por ele conviver com os publicanos e os pecadores.
Daí que Jesus os queira retratar na figura do filho mais velho: zeloso, cumpridor, fiel, mas incapaz de se alegrar com o regresso do irmão que “esteve morto e regressou à vida, esteve perdido e foi reencontrado”, nem mesmo depois de o pai vir ao seu encontro e lhe ter explicado que “tínhamos de fazer festa e alegrar-nos” com o seu regresso.
É que os fariseus e escribas, na sua visão legalista, não podiam compreender e admitir aquilo que Paulo nos recordou no texto da segunda leitura: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”! Ao contrário de Paulo, que se reconhecia como “o primeiro deles”, fariseus e escribas não só se consideravam perfeitos, mas consideravam também ser impróprio de Deus ‘sujar-se’ com os pecadores.
É neste contexto que o protagonista da nossa parábola é mais precisamente o pai. Ao filho mais novo que, sem qualquer razão ou direito, reclama parte da herança, o pai, embora com o coração a sangrar, mas sem qualquer reação aparente, satisfaz a sua reclamação e é também em silêncio que o vê afastar-se da casa paterna
Em relação ao filho mais velho, S. Lucas não nos diz se ele acabou por alinhar ou não com a festa. Nem isso interessa, pois a questão tem mais a ver com cada um e cada uma de nós. Se é verdade que facilmente nos identificamos com o filho mais novo, nos desvarios e também no arrependimento, não é menos verdade que temos muito do filho mais velho em relação aos outros, por juízos e opiniões negativas, por recriminações e censuras, por friezas e indiferenças, que revelam a dureza do nosso coração, nisso muito mais semelhante ao dos escribas e fariseus que censuravam Jesus por “acolher os pecadores e comer com eles”, do que ao coração misericordioso de Jesus e do Pai do Céu. Madre Teresa de Calcutá afirmava que “as críticas não são outra coisa que orgulho dissimulado. Uma alma sincera para consigo mesma nunca se rebaixará à crítica. A crítica é o cancro do coração”.