Festa da Epifania
A Palavra do Senhor desta Solenidade da Epifania está cheia de movimento! São os Magos que, vindos do Oriente e após uma paragem na capital, se encaminham para Belém; é o anúncio do regresso festivo dos filhos de Israel, após a dispersão do cativeiro e do exílio; é a visão de Jerusalém como cidade cosmopolita, cheia de luz, de vida e de paz, onde chegam e donde partem constantemente as caravanas dos comerciantes; finalmente, são os Magos que, de regresso, se põem novamente em marcha, mas “por outro caminho”.
Todavia, era bem diferente a Jerusalém que os Magos encontraram. Mergulhada na escuridão do imobilismo, o rei Herodes e demais habitantes ficam apavorados com o anúncio do aparecimento do novo Rei e só por hipocrisia e por segundas intenções é que dão a impressão de, também eles, se quererem pôr a caminho.
Movimento e caminho aparecem aqui como símbolos da vida ou, melhor, de uma forma de estar na vida. Com efeito, há aqueles que se movimentam para ganhar dinheiro e enriquecer; há aqueles que, pelas mais diversas razões (instalação, comodismo, medo, resignação, desilusão), vegetam em prolongada hibernação; e há aqueles que, tendo um sentido para a vida e razões de viver, procuram viver com entusiasmo, com garra, com paixão!
Por isso, a grande questão que cada um de nós se deve colocar é, não apenas, que caminhos está percorrendo, mas também como caminha na vida!? De facto, há caminhos que conduzem a e partem de ‘Belém’ – terra do pão, da fartura, da vida. E há caminhos que conduzem a e partem de ‘Jerusalém’ – neste contexto, apenas símbolo de uma paz de cemitério! Se a distância geográfica entre ambas é bem curta, a nível existencial essa distância pode tornar-se muito maior.
Mas é sempre possível mudar de rumo e de caminho. A condição é o encontrar-se com a fonte da vida, o Menino de Belém, o presente de Deus que a todos torna seus “herdeiros, membros do mesmo corpo e participantes da mesma promessa”. Foi o que fizeram os Magos, regressando “por outro caminho”. Com efeito, encontrar-se com Cristo leva necessariamente a evitar os caminhos de Herodes, isto é, da hipocrisia e do medo, geradores da inveja que corrói e destrói.
Mas, a verdade é que, hoje, o presépio tem de ser construído ao contrário! Vivemos num tempo em que já não há ‘magos’ que se ponham a caminho, à procura do Menino. Temos de ser nós a apresentar o Menino, deixando as palhinhas do presépio e pôr-se a caminho ao encontro dos ‘magos’ dos nossos dias! Por isso, os caminhos de Belém são, necessariamente caminhos de vida e de missão: “todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus”! É a ‘isto’ que o papa Francisco se refere ao propor-nos uma “Igreja em saída”, uma Igreja toda ela missionária! Estando nós a começar novo ano, não deixemos de nos perguntar que caminhos queremos nós percorrer ao longo dele!