Luís Irineu, Espiritano de Cabo Verde, fez a sua tese de Mestrado em Teologia sobre o Diálogo Inter-Religioso, inspirado no Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em Abu Dhabi, assinado pelo Papa Francisco e pelo Sheik Amad Al Tayyeb, a 4 de fevereiro de 2019.
Como Missionário Espiritano, o Luis Irineu sabe quanto o Diálogo Inter-Religioso é hoje umas das linhas mais avançadas da Missão. Daí a atualidade e a importância deste estudo agora publicado.
O diálogo tornou-se decisivo para o presente e o futuro da humanidade. As pessoas crentes, sobretudo boa parte das suas lideranças, já tomaram consciência desta urgência. Os católicos vivem o diálogo em diversas frentes: com os seus irmãos cristãos (ecuménico), com os crentes de outras Religiões (Inter-Religioso) e com pessoas que dizem não professar qualquer credo (Intercultural). Por isso, na primeira parte deste trabalho, o autor, apresenta um bem fundamentado percurso histórico da relação entre a Igreja e o Diálogo entre Religiões.
Em dezembro 2018, fui a Zanzibar, uma Ilha tanzaniana com uma longa e triste história de tráfico de escravos. É 99% muçulmana, mas as pequenas comunidades cristãs e hindu são respeitadas. O bispo católico, D. Augustine Shao, é Missionário do Espírito Santo e, por isso, ali se organizou o Fórum Espiritano sobre Diálogo Inter-Religioso, de 3 a 9 de dezembro. Na altura, escrevi: ‘Que têm de comum um Espiritano que trabalha no coração da guerra na República centro Africana e outro que está no Bairro de Molembeek, nas periferias de Bruxelas, tristemente conhecido por ser o ‘ninho’ do terrorismo na Europa? E um Espiritanos que trabalha no Paquistão e outro que vive no norte dos Camarões? E ainda um que está na Mauritânia e outro que trabalha na Índia? Um que trabalha no norte do Congo e outro que está nas Filipinas? A resposta é simples: estes e muitos outros Espiritanos trabalham em contextos onde o DIR é absolutamente fundamental para a sua Missão’.
Pouco tempo depois de Zanzibar, Abu Dhabi veio reforçar a convicção da Igreja acerca da importância decisiva do DIR. O Papa Francisco recebeu o convite para a Conferência sobre a Fraternidade Humana, feito pelo Sheik Amad Al Tayyeb para 4 de fevereiro de 2019. Na sua conferência, ressaltou os valores da paz, da justiça, da tolerância, de uma educação aberta, da construção de pontes em vez de muros. Pediu liberdade e reconhecimento para as minorias religiosas estrangeiras. E, no fim, assinou a Declaração de Abu Dhabi onde estes valores estão escritos. Foi muito interessante ver sentados à mesma mesa líderes cristãos, muçulmanos, hindus, budistas e judaicos.
Francisco de Assis foi, há 800 anos, ao encontro do Sultão do Egipto. Oito séculos depois, repetiu-se a afirmação de que as religiões têm de se unir para garantir a paz e a liberdade; a convicção partilhada e dita de que as Religiões devem ajudar as sociedades a amadurecer a capacidade de reconciliação, a visão da esperança e os itinerários concretos de paz.
Ainda nesse mês de fevereiro de 2019, o Papa visitou Marrocos. Sempre com a convicção de que a oração e o diálogo devem derrotar a guerra, o armamento, os muros e a miséria dos povos.
Como cereja em cima deste bolo, o Papa Francisco publicou a Encíclica ‘Fratelli Tutti’ em Assis, a 4 de outubro de 2020. Lança muitos desafios missionários de que destaco sete. 1.A urgência de cicatrizar um mundo ferido; 2. Ser Bom Samaritano, não passando ao lado das vítimas, mas cuidando delas; 3. Tornar o mundo mais fraterno; 4. Praticar a Política com amor, combatendo a violação dos direitos humanos, a corrupção e o tráfico de pessoas; 5. Apostar num diálogo plural, construindo pontes; 6. Condenar a fome, a guerra e a pena de morte; 7. Fraternidade entre todos os Crentes. Aqui, neste último ponto, entra o tema da investigação do Luís Irineu. O Papa Francisco tem uma longa experiência de diálogo ecuménico e inter-religioso e não tem dúvidas de que ‘as várias religiões oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na sociedade’ (FT 271).
São muitas e em várias frentes as propostas pastorais que o autor apresenta. Parabéns, Luís Irineu, por este trabalho tão atual e tão missionário. Que muitos outros se inspirem em ti e que a Fraternidade Humana consiga passar das páginas de textos bem escritos para uma prática quotidiana em todos os tempos e lugares.
Luís Martins (à direita na foto) é missionário espiritano. Foi ordenado presbítero no passado dia 31 de julho e está nomeado para a missão em Moçambique.