A origem desta prescrição – que impunha às famílias judaicas a consagração ao Senhor do filho primogénito varão – prende-se diretamente com a libertação do cativeiro do Egito, como bem o expressa o livro do Êxodo no capítulo 13: “E se amanhã o teu filho te perguntar, dizendo: ‘O que é isto?’, dir-lhe-ás: ‘Foi com mão forte que o Senhor nos fez sair do Egipto, da casa da servidão. E porque o faraó era duro em deixar-nos partir, o Senhor fez morrer todos os primogénitos na terra do Egipto, desde os primogénitos dos homens até aos primogénitos dos animais. É por isso que eu ofereço em sacrifício ao Senhor todo o macho que abre o ventre materno e resgato todo o primogénito dos meus filhos”.
Percebe-se assim facilmente que Jesus é que é o verdadeiro libertador que, pela sua paixão – morte – ressurreição, vem realizar a verdadeira libertação, como nos recorda a Carta aos Hebreus: “ a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demónio, e libertar aqueles que, pelo medo da morte, estavam toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão”.
Com razão, pois, a tradição fez desta celebração a festa de Cristo, Luz das Nações! Só que a sua apresentação no templo não foi feita com a espetacularidade de um grande deste mundo, precedido dos batedores de segurança e rodeado pelos holofotes das câmaras de televisão, mas apenas com o choro de mais um comum bebé e, por isso, só despertou a atenção de dois pobres anciãos: Simeão e Ana!
Mais do que o cumprimento de uma formalidade, Maria e José manifestam-se, uma vez mais, plenamente obedientes à vontade de Deus e decididos a educar o seu filho nesta fidelidade ao Senhor, que o levará mais tarde a dizer também: “Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade”.
É também por isso que este dia é particularmente dedicado aos Religiosos, pois elas e eles escolheram como profissão de vida entregar-se inteiramente ao Senhor e, dessa maneira, ser “sinal que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da Igreja a cumprirem com diligência os deveres da vocação cristã”, e manifestar “melhor a todos os crentes os bens celestes, já presentes neste mundo” (LG. nº 44). Mas não o é menos também para cada um de nós, que, pelo Batismo, decidimos consagrar-nos inteiramente ao Senhor, mesmo que por outros caminhos. Por isso, todos nós, consagrados ou leigos, como membros do Povo de Deus, somos chamados a ser LUZ para os nossos irmãos, luz que os ajude a não confundirem como Casa de Deus tantos templos erguidos às divindades do dinheiro, do consumo, da fama ou do prazer.
Mas, para isso, à semelhança de Simeão e de Ana, precisamos de ter um coração de pobre, sensível e atento às moções do Espírito Santo, prontos para alegremente abraçarmos o projeto de Deus sobre cada um de nós. Só então poderemos, nós também, acolher nos nossos braços o único Dom de Deus que pode encher plenamente os nossos corações e as nossas vidas e levar-nos a d’Ele falar a quantos nos rodeiam!