6º Domingo do Tempo Comum
A simples escuta da regulamentação bíblica sobre a doença da lepra é suficiente para concluirmos o quão terrível ela é, pelos seus efeitos físicos, psicológicos, sociais e morais, que fazem dela verdadeira maldição.
O isolamento a que estão sujeitos estes doentes, faz também da lepra uma doença escondida, que vota os seus portadores ao esquecimento – “longe da vista, longe do coração”. Com efeito, quantos de nós sabem que, segundo os dados divulgados, por ano, aparecem cerca de 700.000 novos casos e que o grande problema reside na aquisição do respetivo medicamento, pelo irrisório preço de 25 €uros!
É também por tudo isto que a lepra é utilizada como símbolo do pecado: também este desfigura o ser humano na sua dignidade, abala-o profundamente na sua dimensão psicológica e trunca-o da sua relação com Deus e da sua dimensão comunitária.
Mas gostaria de centrar a atenção na forma como Jesus, no texto evangélico de hoje, acolhe e cura um leproso: Ele aceita a sua ousadia de infringir o preceito do isolamento e de desafiar o seu poder ( “se queres, podes curar-me!”); de seguida, estende-lhe a mão, toca-o e só depois lhe anuncia que está curado, embora para tal deva cumprir o que a legislação prescrevia. O evangelista Marcos dá assim muito relevo à forma como o cura, para nos dizer que não nos basta fazer o bem – é preciso fazê-lo bem feito, como dizia S. Camilo de Lellis, “com o coração nas mãos” ou, como ouvi de uma doente idosa: “metade do prato com a comida e a outra metade com carinho”.
Por aqui pode passar também o nosso combate desta Quaresma contra a “globalização da indiferença”. Como lembra o Papa Francisco, “a Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal – por pequeno que seja, mas concreto – da nossa participação na humanidade que temos em comum”.
Procurando fazer bem o bem, seguramente “teremos um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo, nem cai na vertigem da globalização da indiferença”.
