Quando chegou a Auteuil o P. Daniel Brottier encontrou uma lista de 12 mil benfeitores. Mas o número cresceu até aos 150 mil, ainda em vida do Pai dos órfãos de Auteuil. Na verdade, ele sabia tocar os corações. Todavia, ele próprio se admirava da generosidade dos amigos da Obra: «Cada uma das minhas novas iniciativas, é acolhida pelos meus amigos, pelos amigos de Auteuil, com tão transbordante efusão de generosidade, que fico muitas vezes mudo de admiração e reconhecimento. O pecado original corrompeu a nossa pobre natureza, mas o coração humano guardou, apesar de tudo, a marca do Criador, e as paixões nunca chegarão a matar esse germe divino!»
Palavras carregadas de esperança, caro leitor, saídas de um coração debruçado sobre os mais desfavorecidos da terra. Não era só aos órfãos que ele atendia no dia-a-dia de Auteuil. Chegava a responder a cerca de duzentas cartas por dia. Recebia visitas de benfeitores, de pedintes que vinham mendigar um naco de pão e um prato de sopa, de corações aflitos em demanda de um conselho, de uma palavra de conforto. Levantava-se cedo, para poder dedicar tempo ao Senhor, na oração e na celebração da eucaristia. Deitava-se tarde, para atender o maior número possível dos que lhe batiam à porta.
A maior parte do seu tempo e do seu esforço, porém, era canalizada para os seus queridos órfãos. Queria garantir-lhes o carinho e o calor de um Lar, pois que o não tinham tido. Queria proporcionar-lhes uma educação sadia, alicerçada em sólidos valores humanos. Entre estes valores, dava particular relevo à honestidade, à pureza, ao amor pelo trabalho, à gratidão e ao sentido do dever. Fazia ainda questão de lhes proporcionar a aprendizagem de um ofício, que lhes permitisse encarar o futuro com esperança e dignidade, ou então, que aprendessem a ser bons agricultores.
O P. Brottier queria fazer dos órfãos de Auteuil verdadeiros Homens. Mas queria acima de tudo abrir os seus corações ao amor de Deus; queria que fossem bons cristãos, homens de fé. Por isso lhes dizia: «A vida espiritual é característica do homem. A nossa situação financeira, social, pode mudar. O nosso valor pessoal, intelectual e moral, permanece e permanecerá sempre. Tomemos a peito desenvolver em nós esta personalidade, este “eu” que Deus nos deu». O engenheiro Perrin-Waldemer, seu colaborador, afirmou que a principal preocupação do P. Brottier «era fazer dos seus órfãos sólidos cristãos».