“As pessoas têm esperança mas é calculada. A esperança bíblica é um fio esticado em duas mãos. Na mão de Deus em primeiro lugar e depois na nossa mão. Se estiver seguro na mão de Deus basta então que eu me agarre que também fico seguro.”
António Couto
Nestes tempos de crise e desespero, quando parece que o mundo depende dos banqueiros e ficamos pendentes das suas palavras, quando escutamos com avidez o que dizem os grandes observadores financeiros sobre o nosso futuro, agora que os profetas são futebolistas, os pontífices são famosos e os líderes malabaristas da mentira, fala-me Senhor! Senta-te aqui ao meu lado sobre a erva, agora que entardece e sinto o peso de viver, o medo do futuro… sê Tu a minha força, a minha esperança. Deixa-me inclinar a cabeça sobre as Tuas palavras e confiar em Ti como sempre fiz. Deixa que o meu pequenino eu egoísta descubra o eu transcendente no Teu coração infinito e que volte a nascer de novo. Permite que quando olhe para a Tua Igreja a ame apesar de muitas vezes a ver obcecada com os seus dogmas, normas ou propriedades. Que agora, mais do que nunca, Te encontre entre os marginalizados e desamparados, entre os desesperados e os sem rumo. Mas, sobretudo, ensina-me a ver-me como ressuscitada, salva, resgatada desde o momento em que me perco em Ti.
Que todos os dias me esforce para que o Novo Mundo anunciado por Jesus se torne realidade a cada ação minha, a cada palavra… a cada gesto. E isso, passará por viver a cada momento os três pilares que sustentam o nosso “fazer-se cristão”: a misericórdia, a sobriedade e a intimidade com Deus.
Fazer-se cristão é entender que a esmola, como normalmente é encarada nos dias de hoje, é pré-cristão. Jesus, Aquele que renovou todas as coisas, ensinou-nos claramente que uma Igreja que é feita de irmãos tem de se alicerçar no princípio da partilha, no fazer-se próximo de quem necessita, não faz sentido nenhum continuarmos a pertencer a comunidades de gente anónima, que não se implica.
Fazer-se cristão é fazer do jejum não apenas uma atitude de “boca” mas sim uma disponibilidade de coração. Sobriedade não é sinónimo de privação, mas antes de uso responsável e sustentável dos bens que temos à nossa disposição. Numa sociedade consumista, que tem o dom de nos fazer sentir falta até do que não existe, são necessárias pessoas capazes de prescindir do supérfluo e até do necessário, para que outros vivam com a dignidade de Filhos de Deus, de irmãos no mesmo corpo de Cristo.
Todos estamos conscientes da realidade social em que vivemos nos últimos tempos como consequência da crise económica que padecemos e que nos conduziu a um aumento da pobreza. Somos conscientes das causas que a motivaram e que as soluções não são exclusivamente do tipo económico porque também não o são as causas… O número crescente de pessoas que perdem o seu emprego, a sua casa, que deixam de aceder a serviços básicos como a energia eléctrica ou o abastecimento de água, a escassez de alimentação, prolifera a uma velocidade assustadora nos países desenvolvidos e em comunidades muito próximas de nós… nós, os cristãos do século XXI!
Optar pelos mais pobres, não pode ser só uma teoria, impressa num qualquer papel tricentenário ou bimilenar ao qual recorremos orgulhosos, tem de ser uma realidade vivida concretamente, com tudo e todos, aqui e agora, tal e qual como Eles fizeram no seu tempo. É urgente que nos libertemos de normas e possessões que não são mais do que um impedimento à livre actuação do Espírito de Deus. Não permitamos que o desespero tome conta dos nossos irmãos! A Caridade, hoje como outrora, tem de vencer a Regra…
Fátima Monteiro