Por ocasião das cerimónias fúnebres do Bispo Emérito de Cabo Verde, D. Paulino Évora, primeiro Bispo e primeiro Padre Espiritano de Cabo Verde
Ó Maria, Rainha das Missões e dos Missionários…
Como é do conhecimento de muita gente, tanto dentro, como fora do país, o nosso Confrade, Bispo, D. Paulino Livramento Évora, deixou de estar entre nós na manhã do Domingo, 16 de junho, que por sinal, foi dia em que a Igreja celebrava a Solenidade da Santíssima Trindade, esse Deus “Três em Um”, que tantas vezes invocou de maneira solene, como era o seu estilo. O nosso Bispo deixou este mundo de forma serena e consciente da chegada daquela “Hora”, dos “Novíssimos” que é parte da vida de todos os viventes.
O seu ministério do Episcopado durou 44 anos anos. É escusado dizer que várias gerações deste povo usufruíram do seu apostolado.
Durante os três dias que antecederam a sua sepultura, no interior da pro-catedral, a Igreja de Nossa Senhora da Graça na Praia, se viram inúmeros rostos de toda a camada da sociedade que quiseram prestar-lhe homenagem.
O cortejo do translado da residência das Irmãs Franciscanas do Imaculado Coração onde residia, no dia 18 pela tarde, a Eucaristia no fim da tarde, e Missa das exéquias do dia 19, com o povo destas ilhas e gente que veio do estrangeiro, os mais de 50.000 mil pessoas que nos acompanharam pela Internet, foram momentos singulares, se calhar não tanto pela magnitude dessas cerimónias, senão pelo carinho que quase todos tinham, e manifestaram por aquele Missionário.
Falar de D. Paulino, é também falar da Família Religiosa e Missionária, a Congregação do Espírito Santo sob a proteção do Imaculado Coração de Maria, a que pertenceu, desde 1957, quando tinha 26 anos e fez os primeiros Votos, e permaneceu até o seu último dia nesta vida. Foram 62 anos de Vida Espiritana.
Membros desta Congregação chegaram a Cabo Verde em novembro de 1941, em plena segunda guerra mundial, que também afetou o nosso país. Era um grupo de 8 Missionários, liderado pelo Bispo Espiritano, D. Faustino Moreira dos Santos, acompanhado por 3 Padres da mesma Congregação, outros 2 diocesanos e 2 seminaristas de Portugal. Naquele tempo ninguém queria vir para cá. O clima era inóspito, a fama de maus costumes, a carência alimentar e tantas outros problemas, não atraíam nem aos Missionários Alguém dizia a esse respeito: “Cabo Verde é uma desolação; o clima é áspero e desabrido, o solo é pobre, a população miserável, é mistura de todas as raças, mistura de todos os vícios”.
Quando se falam das dificuldades do Bispo D. Paulino quando chegou cá, na altura da Independência, recordo um sem fim de obstáculos que os nossos Confrades tiveram quando aqui chegaram. Era preciso muita coragem para que viessem ao encontro daqueles pobres no meio do Atlântico. Mas foi assim que nos ensinaram os nossos fundadores, Cláudio des Places e Francisco Libermann: É preciso a abnegação (esquecer de si mesmo), para cuidar dos que mais necessitam.
Estamos neste arquipélago há quase 78 anos, e nesse período de tempo foram enviados uns 80 Missionários Espiritanos, na sua maior parte, Confrades Portugueses. Ainda estamos por cá uns 12. Sendo alguns com mais de 60 anos de Missão neste pais, como é o caso do Padre Campos, que vai completar os 65 anos neste país querido, como ele mesmo diz. É Obra!
Penso que todos nos sentimos orgulhosos por todo o trabalho apostólico e com repercussão em todo o povo cabo-verdiano, realizado, pelo nosso Confrade Bispo, durante os 44 anos. A maior parte dos presentes nas referidas celebrações foi diretamente beneficiada pelos dons que Deus lhe concedeu: 90 porcento dos Padres presentes, incluindo o Cardeal D. Arlindo foram ordenados por ele. O P. Boaventura, O P. Constantina, ordenados há 43 anos, e nós os mais novos. Também dedicou 13 anos do seu Ministério a Portugal e â Angola. Por tudo quanto fez, louvado seja Senhor Jesus.
Sentimentos: De Tristeza, sim alguma. Caso não fosse, deixaríamos de ser humanos. Mas são sobretudo, de Louvor e Ação de Graças a Deus por ter doado â Igreja uma “pedra tão viva e tão forte” para a sua construção. Um Homem Bom, de Fé, Verdadeiro, incapaz de dar dito por desdito, Coerente até ao fim, e com sentido de humor.
Quanto ao sentimento de perda, não ºe para tanto, pois com a sua ida, acreditamos que ganhamos muito mais. Se cá na terra, como homem carnal, nos ajudou, e muito, quanto mais agora que a nossa fé nos faz crer que está junto de Deus, nos pode ajudar bastante mais, pois é um Homem Novo, Espiritual, com bastante mais influência e força, pois está com ELE.
Ultimas palavras: Numa das últimas visitas no hospital, dizia ele; “o homem não é nada”. Já dizia o mesmo, o nosso segundo Fundador, Francisco Libermann, quando estava para deixar este mundo: “Deus é tudo, o homem é nada”. Pois bem, busquemos a Deus para que Ele seja tudo em nós.
Somos todos Concidadãos do Céu, por isso dissemos um “até já” ao nosso Confrade Bispo, Paulino.
P. Joaquim Brito, Espiritano
Grande espetáculo pela missão eucarística.