26º Domingo do Tempo Comum
Tiago surpreende-nos hoje pela frontalidade e pela dureza com que ataca os ricos, embora isso não nos afete, porque “ricos são os outros”! Mas, afinal, o que é ser rico? A partir de que soma de dinheiro alguém é considerado rico?
Só que a verdadeira perspetiva não é a dos cifrões, mas a do lugar e importância que o dinheiro e os bens materiais ocupam no nosso coração e na nossa vida! Por outras palavras, o que conta é o grau do apego a esses bens materiais. E, assim, também se pode ser rico com pouco dinheiro, com poucos ou, até, nenhuns bens materiais. Por isso, S. Tiago também se dirige a cada um de nós, pois todos reconhecemos a força de atração e de sedução dos bens materiais e da riqueza.
Mas a Palavra do Senhor deste domingo não se limita a denunciar a ambição desmedida pelos bens materiais, de que resultam tantos holocaustos inúteis no altar do deus ‘dinheiro’: saúde, família, prática religiosa, cultura, lazer, desporto, turismo, convívio…. Aponta-nos também, como que em contraponto, modelos de verdadeiros pobres – Cristo e Moisés – que nós podemos e devemos imitar, pois eles não só nem os bens espirituais reivindicam só para si, como até exultam pelo facto de eles serem partilhados pelos outros, por todos!
Se fosse assim magnânimo o coração de cada ser humano, não haveria espaço no nosso mundo para a guerra, a cobiça, a inveja, a injustiça e a exploração, de que resultam tantos indigentes, tantos refugiados, tantos esfomeados, tantos analfabetos, tantos miseráveis.
Mas não nos iludamos! A segunda parte do texto evangélico (se a tua mão, se o teu pé, se o teu olho, forem para ti ocasião de escândalo…) mostra bem a dificuldade que há em contrariar a nossa inclinação para toda a forma de monopólio ou de inveja. Aliás, não é preciso ir muito longe para encontrar exemplos destes sentimentos e atitudes entre localidades vizinhas, entre grupos e, até, dentro de uma mesma comunidade cristã. Trata-se mesmo de um mal que precisa de ser atacado pela raiz.
Às portas de outubro, mês entre nós fortemente missionário, somos convidados a alargar a tenda do nosso coração e a enchê-la não com a ambição pelos bens materiais, que enferrujam e perecem, mas a dilatar a nossa solicitude missionária por todos os povos, para com eles partilharmos a nossa riqueza, o nosso maior e verdadeiro tesouro que é o dom da Fé.
Que Maria, a Senhora do Rosário, nos ensine os caminhos da simplicidade e do desprendimento, os únicos que podem tornar o nosso coração magnânimo e, por isso mesmo, missionário!