16º Domingo do Tempo Comum
Temos muita dificuldade em lidar com o mistério do mal, cuja realidade se torna em nossos dias cada vez mais avassaladora: ou pretendemos a sua eliminação imediata e completa – “cortar o mal pela raiz”, como diz o nosso povo – e, por isso, quantas vezes nos revoltamos com Deus por causa do seu aparente distanciamento face aos triunfos do mal; ou nos resignamos à sua presença e à sua força, aceitando a sua inevitabilidade, mas apontando sempre Deus e os outros como os seus causadores.
Bem diferente é a visão que Deus nos propõe nos textos de hoje. Pela parábola do trigo e do joio, Deus mostra-se paciente e sem pressa para antecipar o momento da separação definitiva entre bons e maus – o juízo final -, até porque o bem e o mal são transversais a todos nós. Neste aspeto, somos todos ‘trigo’ e ‘joio’ e, para liquidar já um, Deus teria de eliminar também o outro. Com efeito, no coração de cada um de nós há sementes de trigo e de joio e que, ao longo da vida, as pessoas vão-se diferenciando pela aposta que fazem em desenvolver um ou outro. De facto, não estando marcados por um destino fatalista, compete-nos, escolha após escolha, ir traçando o rumo da nossa vida.
Mas, se a clemência e a compaixão do nosso Deus se manifestam em favor da nossa fragilidade, Deus nunca poderá pactuar com a mentira ou com as pretensões de alterar a natureza das coisas. O verdadeiro ‘humanismo’, para o qual nos aponta a primeira leitura, reconduz-nos, antes de mais, à verdade sobre as pessoas e as coisas, verdade que nos compete aceitar e conhecer cada vez melhor para a podermos admirar e agradecer. Também por aqui passa a distinção entre o trigo e o joio.
Esta mensagem é completada pelas parábolas da mostarda e do fermento: Deus confia na força irresistível do Bem, que, apesar das aparências em contrário, é dotado de um dinamismo intrínseco que, na ressurreição de Cristo, já manifestou que a vitória final é ao Bem que pertence e não ao Mal.
Com o texto do livro da Sabedoria, também nós somos convidados a colocarmo-nos do lado do Bem, do lado de Deus, aceitando a sua estratégia para enfrentar o mal: “Senhor, manifestais a vossa força, quando vos compadeceis e perdoais”. De facto, o mal vence-se com a paciência, com a brandura, com a indulgência – “o justo deve ser humano”. Na verdade, combater a violência do mal com violência, acaba sempre por trazer ainda mais violência.
Compreendemos assim que S. Paulo nos diga que “não sabemos que pedir nas nossas orações”, pois não pedimos “em conformidade com Deus”, mas pretendemos, muitas vezes, que Deus se conforme com os nossos critérios. O que nos vale é que “o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza”!
Então, que o Espírito nos ajude a encarar o mistério do sofrimento e do mal com os olhos do próprio Deus e que nos leve a aceitar nas nossas vidas os seus caminhos e desígnios, na certeza de que, também sobre cada um/a de nós, a última palavra pertence a Ele e não ao mal!