20º Domingo do Tempo Comum
O número de quantos se dizem ‘católicos` está muito para além dos que têm uma prática religiosa regular – temos os autodenominados ‘católicos não praticantes’-, mas convém que, uns e outros, nos perguntemos se somos verdadeiramente ‘católicos’.
Num tempo de tantos muros e divisões, que agravam ainda mais a indiferença que por todos os lados prolifera, mais difícil e exigente se torna alargar o nosso coração, de forma a nele haver espaço, acolhimento, atenção, apreço e reconhecimento para todos, sem distinção de raça, cor, classe social ou filiação religiosa, pois isto é que é ser ‘católico’.
Temos de reconhecer que, pelo facto de a ‘globalização’ nos colocar mais perto uns dos outros, daí não decorre necessariamente que estejamos mais próximos. Com efeito, a tenda da ‘aldeia global’ só poderá ser levantada e só poderá manter-se de pé se no coração de cada um de nós houver abertura e largueza para os outros, com as suas diferenças, a sua maneira de ser, de viver e de sentir.
A verdadeira ‘aldeia global’ é-nos proposta por Deus sob a forma de “casa de oração”, pois é pela oração que o nosso coração se pode abrir a Deus e se alargar a todos os homens, à semelhança do nosso Deus, por quem serão aceites também os “holocaustos e sacrifícios” dos estrangeiros.
Deus garante-nos hoje que a sua tenda é suficientemente larga para a todos albergar e que a sua mesa é suficientemente farta para a todos saciar. Compete a cada um de nós ir derrubando os muros que no nosso coração vão roubando o espaço a que os outros, como homens e como irmãos, têm direito.
E a aparente indiferença – e resistência, até – de Jesus em atender a súplica daquela mulher cananeia que lhe pedia a cura da sua filha, serve apenas para salientar o dom da fé concedido também a esta ‘pagã’, e que ela expressa na sua convicção de que Deus não quer, nem pode, excluir ninguém da sua mesa.
Também a tenda do nosso País não tem sido muito pacífica com as levas de emigrantes que a têm demandado nos últimos anos e como a bandeira do racismo tem sido agitada nos últimos tempos. Habituados como estávamos a enviar gente para todos os cantos do mundo, não tem sido fácil tornarmo-nos agora porto de abrigo, mesmo que sejamos reconhecidos como povo acolhedor. Para que tal aconteça, temos de reconhecer a radical fraternidade de todos os homens, porque todos temos o mesmo Pai, cuja casa está aberta a todos os povos!
Por isso, o ser verdadeiramente ‘católico’ não exclui, não separa, não divide, não afasta, nem opõe, mas distingue-se pela sua abertura e aceitação respeitosa de todos os outros, à semelhança do Pai do Céu e caracteriza-se pelo seu empenho na (re)construção da nossa ‘casa comum’ onde haja lugar, pão e paz para todos!
oh.Como seria belo que todos nós, católicos, aparecêssemos nesta nossa sociedade, cada vez mais dividida e clubista, como agentes da verdadeira globalização e não nos deixássemos enredar por preconceitos e por interesses rasteiros e mesquinhos, que só nos enriquecem em ódios, ressentimentos e divisões, mas que em nada contribuem para nos tornarmos mais próximos uns dos outros e concidadãos da mesma ‘aldeia global’!