O P. Brottier chegava ao fim. Cansado, exausto, depois de um duro calvário, sem que a maioria dos que com ele lidavam se apercebessem bem do quanto sofria. Monsenhor Le Hunsec, então superior geral da Congregação do Espírito Santo, que o quis como conselheiro e assistente geral, disse dele, após a sua morte: «O grande mérito do P. Brottier foi trabalhar lutando quotidianamente contra dores de cabeça atrozes». Escutadas à distância, são significativas estas palavras proferidas pelo próprio P. Brottier: «É preciso saber sofrer, suportar a nossa coroa de espinhos». E entre outras: «Trabalhemos agora; teremos toda a eternidade para descansar».
No dia seguinte à consagração da catedral-monumento de Dakar, a doença pôde mais do que a sua vontade férrea, prostrando-o na cama: congestão pulmonar, grande fraqueza, coração estafado. A meados do mês teve um ligeiro alívio e, ainda na cama, logo começou a dar ordens, a fazer planos, a projetar um futuro melhor para os seus queridos órfãos. Na verdade, ele não se contentava em ajudar os órfãos que vinham parar a Auteuil. Queria acudir a todos os órfãos da França, e, se tal fora possível, aos do mundo inteiro. Aliás, o seu maior sofrimento era não poder ajudar a todos os que lhe batiam à porta.
O alívio que o P. Brottier experimentou, prezado leitor, foi sol de pouca dura. O sofrimento voltou de novo e em força. A quinze de fevereiro tiveram que o internar no hospital de S. José. Exausto, acossado pela doença, o Beato Daniel Brottier vai em grande paz ao encontro da morte que o espreita, com o olhar posto na eternidade, como deixam transparecer as suas palavras: «Posso partir sem receio. A cadeia de amizades e dedicação que fiz nascer em volta dos meus mil e duzentos rapazes, é, de hoje em diante, indestrutível. Vereis, vereis o que vai acontecer, quando eu deixar este mundo… ficareis espantados».
Na madrugada do dia 28 de fevereiro, o Beato Daniel Brottier partiu, não sem advertir dois dos seus maiores amigos, que se encontravam longe dele: ao barão de Brichambault, pelas quatro da manhã, arrancado ao sono, disse: «Amigo, vou partir»; e ao padre Groell, que se encontrava em Saverne: «Padre Groell, vou partir».
A doença que o levou à morte atacara-o forte no dia dois de fevereiro, dia em que a liturgia da festa da Apresentação do Senhor, nos faz meditar nas palavras do velho Simeão: «Agora, Senhor, podeis deixar o vosso servo partir em paz…». E o P. Brottier comentava com alegria incontida: «Caí no dia do Nunc dimitis, em breve irei para o Céu cantar os louvores eternos de Deus». São assim os santos!