Há seis anos, a União Europeia ganhou o Prémio Nobel da Paz. Tal se deveu pelo facto de ter contribuído durante mais de seis décadas para o avanço da paz, da reconciliação entre povos, da democracia e dos direitos humanos na Europa…
O mundo inteiro aplaudia aquilo que foi julgado mais do que merecida atribuição.
O previsto Brexit, com todos os seus méritos e deméritos, faz uma critica atroz aos progressos e esforços na unificação de uma Europa outrora divida.
A Europa atravessou séculos de amargura interna e de nacionalismo absolutista entre os seus atuais Estados-membros. Vivia-se num espírito em que cada qual estendia até ao máximo possível os seus territórios geográficos e poder de influência. Assim, nasceram inimizades e até muros físicos de separação… À medida que se foram desmoronando estes muros físicos e psicológicos, voltou a crescer a amizade, a renascer a paz e a cooperação entre as nações e a fortalecer-se a economia.
Após décadas de fortalecimento e aprofundamento dos processos políticos, de integração e interdependência europeias, a União Europeia e o Reino Unido, fruto do referendo de junho 2016 no Reino Unido, estão enredados numa tarefa árdua de compreender todas as implicações do art. 50º do Tratado da União Europeia. Assim, quando entrar em vigor o Brexit, a União Europeia e o Reino Unido desvendarão os muitos fios que os prendem e traçarão um novo curso de separação e autonomia.
Dentro da União Europeia e do espaço económico europeu, há livre circulação das pessoas que promove uma interculturalidade evidente no número dos jovens e menos jovens que estudam fora do seu país e dos trabalhadores que usufruem a oportunidade de exercer além-fronteiras, bem como a liberalização comercial que traz benefícios sem precedentes a toda a Europa.
A partilha de informações estratégicas, a adoção de ideologias e políticas semelhantes, o uso da mesma moeda na maioria dos Estados-membros e o espírito euro-centrista dão a qualquer cidadão europeu um sentido de pertença. Tudo isso confere à União Europeia, um lugar de honra à escala mundial.
Quando o então Primeiro Ministro David Cameron requereu o referendo após o qual resignou, nem ele, nem o seu partido, o PM, esperava que o resultado fosse favorável à saída de Reino Unido da União Europeia. Tudo demonstra ter sido uma medida precipitada. Nos dias que se seguiram às eleições, os britânicos inundaram a internet para se informarem do que tinham feito.
Esta saída terá implicações multifacetadas. Embora não sejam ainda conhecidos todos os termos e os acordos que serão alcançados, tudo leva a crer que vai gerar um “abanão”, especialmente nos âmbitos comerciais e sociais, com consequências na administração de justiça e paz no Continente Europeu e além-fronteiras. As fronteiras que serão construídas, levarão à revogação de muitas leis e à criação de outras que poderão ter como consequência gravosa a exclusão de alguns setores da sociedade humana.