3º Domingo do Advento
Neste terceiro domingo da nossa caminhada em Advento emerge a figura de João, o Batista, em duas dimensões aparentemente incompatíveis: por um lado, a sua extraordinária grandeza, por Jesus proclamada: “entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior” que ele; mas, por outro, vivendo uma profunda crise de fé – “és tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” – dado que se encontra injustamente preso e invadido pela sensação de que sobre ele caiu um profundo abandono, ele “a voz” silenciada, sem ter havido qualquer movimento ou levantamento em seu favor. Daí a sua iniciativa em enviar uma delegação junto de Jesus, de quem, provavelmente, esperaria outra atitude.
A resposta de Jesus, embora pareça manifestar uma enorme indiferença pela situação em que ele se encontra, é, bem pelo contrário, a única resposta válida: “ide contar a João o que vedes e ouvis”. De facto, respostas feitas de palavras bonitas é o que mais há por aí fora a todos os níveis, mas que o vento leva e que desaparecem mais rapidamente que o fumo dos foguetes que profusamente são lançados por toda a parte nesta quadra natalícia.
O que verdadeiramente conta são ações, atitudes, gestos e compromissos, exatamente o que Jesus estava fazendo naquele momento: os cegos passavam a ver, os coxos a andar, os leprosos recuperavam a saúde, os surdos começavam a ouvir, os mortos ressuscitavam e a boa nova era anunciada! São os ‘sinais messiânicos’ pelo profeta Isaías anunciados e cuja realização permitiria identificar o verdadeiro Messias.
É este critério que precisamos de transpor para as nossas comunidades cristãs e para a vida de cada um/a de nós. Estas são as verdadeiras credenciais, as únicas que podem dissipar todas as dúvidas. De facto, convém que nos perguntemos: onde estou eu, onde estamos nós, cristãos, face aos inúmeros e reais problemas das pessoas, particularmente dos pobres, dos isolados, dos abandonados, dos marginalizados, dos emigrados? Onde estou eu, onde estamos nós, cristãos, face às iniciativas legislativas que se anunciam e que são contrárias não só à nossa fé, mas também aos nossos valores civilizacionais e éticos? Não sofreremos nós, como dizia recentemente alguém, de uma estranha esquizofrenia e bipolaridade que nos permitem conjugar fé e legalização do aborto ou da eutanásia? Será verdadeira compaixão optar pela eliminação dos que sofrem, em vez de estarmos a seu lado e aliviar o seu sofrimento por uma presença silenciosa e compreensiva, mas verdadeiramente compassiva?
Convenhamos que podem ser perguntas incómodas, particularmente nesta quadra natalícia, mas pretender ignorá-las ou evitá-las só poderá contribuir para o nosso descrédito. E o mundo de hoje não precisa do nosso silêncio cobarde e cúmplice, mas dos nossos ‘sinais messiânicos’, que abram caminho ao nosso Deus, que a todos quer salvar!
E é sobretudo o mundo do sofrimento e da dor que precisa de ser iluminado pelos sinais messiânicos do ‘estar com’, da escuta empática, da consolação. Devem ser estes, pois, os nossos sinais, chamados que estamos a ser “ministros da esperança”. Mais: estas é que têm de ser as nossas credenciais!